FE: Que principais dificuldades encontrou no acesso à profissão de médico?
JM: Para além das dificuldades mais triviais, encontrei três grandes obstáculos no acesso à profissão de médico:
- Adaptação ao ensino português:
Nasci em Inglaterra, onde vivi e estudei até aos 10 anos; aos 14 anos estive um ano a viver no Chimoio, no coração de Moçambique (durante o qual estive a estudar num colégio no Zimbabwe). Regressado a Portugal, ainda estive a estudar no colégio inglês até ao nono ano. No décimo ano, a minha mudança e adaptação para o ensino português, acabou por não ser tão fácil como estar deitado na praia a beber um iogurte. Isto não significa que tenha sido extremamente difícil, mas apenas que precisei de mais tempo do que esperava.
Sabendo que o sistema de ensino britânico é obviamente distinto do português, para conseguir obter as notas de excelência necessárias para entrar em Medicina (acima dos 17-18 valores) tive de aprender a estar atento a pormenores diferentes aos quais estava habituado. A meio do meu décimo ano, visto que a minha média era de 16 valores, e tal tornava o meu objetivo muito mais difícil e distante, no final do ano letivo, acabei por decidir faltar às provas globais para poder repetir o décimo ano outra vez. No segundo ano em que repeti o décimo, já estava bastante mais adaptado ao ensino português e obtive classificações bastante melhores.
- Distração e excesso de confiança no exame nacional de química:
As provas de ingresso para as Faculdades de Medicina, também conhecidas como “as específicas”, têm um peso muito grande na nota de candidatura ao ensino superior (50%). Dito isto, qualquer distração pode ser decisiva no resultado que é obtido. No 12º ano, após já ter realizado a prova de biologia que me tinha corrido bem, no exame de química cometi um erro crasso: esqueci-me do relógio em casa. Para além disso, fui para o exame “confiante de mais” e acabei por me esquecer de controlar minimamente o tempo que ainda tinha disponível. Realizei o exame com calma, mas quando o tempo da prova terminou, ainda me faltavam duas questões por responder! Resultado: Não obtive uma nota de candidatura suficientemente alta para entrar em Medicina, e tive de ficar mais um ano a estudar e a ter explicações para repetir as provas de ingresso.
- Ultrapassar os “cadeirões” do curso.
Apesar de nunca ter reprovado a nenhuma cadeira na faculdade (talvez por ter recebido avisos suficientes de amigos e colegas mais velhos), recordo-me que os “cadeirões” do curso foram autênticos obstáculos pelo facto de ter sido necessário dedicar muitas horas a decorar inúmeros nomes e conceitos novos. Alguns exemplos de “cadeirões” no curso de Medicina são: Anatomia, Histologia, Anatomia Patológica, Microbiologia, Farmacologia, entre outros. Tirar o curso de Medicina é equivalente a aprender várias línguas totalmente distintas. É importante ter bastante força de vontade e disponibilidade mental para apreender tanta informação nova.
FE: Que tipo de conteúdos e conselhos dá neste livro?
JM: Neste livro, partilho conteúdos e conselhos que estão divididos entre os três capítulos principais: 1 - Porquê Medicina? A decisão; 2 - Como entrar em Medicina; 3- O curso de Medicina.
Na primeira parte do livro começo por apresentar os conceitos fundamentais da Medicina e contar como a Medicina evoluiu até aos dias de hoje. De seguida, apresento quais os pontos mais atrativos e quais as dúvidas mais comuns relativamente ao curso e à profissão médica. Esta parte também ajuda os mais indecisos a tomar uma decisão sobre o seu futuro.
Na segunda parte do livro, dou as dicas mais fundamentais para entrar em Medicina (ou qualquer outro curso com nota de acesso alta). Dou dicas sobre todos os pontos mais importantes, desde a escola e as aulas, ao estudo e às avaliações. Dou as dicas de modo a que os alunos nunca deixem de ter tempo para realizar outras atividades que também gostam. Esta parte também inclui algumas mensagens para os pais dos alunos.
Na terceira e última parte do livro explico a estrutura e conteúdo geral do curso de Medicina no nosso país, as suas características principais e também partilho algumas dicas importantes para realizar o curso com sucesso. O livro acaba a informar sobre as possibilidades de estudar medicina no estrangeiro e sobre o que acontece depois de terminares o curso.
Ao todo, existe um total de 28 dicas concretas ao longo do livro. Para além de todas essas dicas, uma das grandes vantagens do livro é o facto de reunir uma série de outras ferramentas e informações importantes: formas de acesso ao ensino superior, peso de cada avalição na nota de candidatura, rankings das melhores escolas, notas de acesso e vagas das faculdades de Medicina, websites úteis, entre muitas outras.