Este foi o verão da tua vida?
O verão da minha vida ainda está por vir, será quando tiver vários hits e muitos concertos, independentemente da estação do ano. Quando tiver uma performance super-estruturada e bem pensada, aí sim vai ser o verão e o ano da minha vida.

'Faz Gostoso' está a ter um sucesso brutal. Estavas à espera?
O funk está muito a bater aqui em Portugal e então nós também pegámos por esse lado. Antes o funk era muito mais ordinário e malcriado. Agora, o funk é muito mais pop, mais fácil de cantar sem dizer palavrões. É um funk que consegue estar na casa de toda a gente porque é muito melódico. Como eu não lançava nada novo há muitos anos [EP 'Blaya', 2013], quis lançar algo que fizesse a diferença na cabeça das pessoas. O facto de ter cantado a música com sotaque brasileiro levou as pessoas a criticarem tanto positiva como negativamente mas, ao menos, comentaram. E isso fez com que o vídeo tivesse ainda mais visualizações. Não estávamos à espera que o sucesso fosse assim tão grande mas a equipa Red Mojo trabalhou para que fosse um hit.

Já tem mais de 22 milhões de visualizações, mais de duas vezes a população de Portugal. Esse número não te impressiona?
Sim, é uma grande responsabilidade. O que me deixa assim meio ansiosa é: "o que é que irá superar o 'Faz Gostoso'?". Aí é que vai ser a dificuldade. Se as duas músicas que agora lancei – 'Má Vida' e 'Vem na Vibe' – chegarem ao 1 milhão de visualizações já é muito bom.

Já não há só a pressão de fazer um bom tema, há a pressão da popularidade em termos de visualizações...
Sim, até porque quantas mais visualizações um vídeo tiver é porque chegou a mais pessoas. Tanto em Portugal como fora. Claro que o que mais importa é conseguir concertos. Mas os promotores marcam-te um concerto, muitas vezes não por seres muito bom, mas sim pelas visualizações nas redes sociais.

Também acompanhas muito as redes sociais?
Passo mais tempo no Instagram porque muitas das coisas novas aparecem mais rápido por lá. Se vai sair uma música nova, rapidamente sabes o dia no Instagram. E depois nesse dia é que vou ao Youtube, ao Spotify ou ao iTunes. O Instagram é mais o meu guia, até ao nível da roupa e de espetáculos, porque é muito mais fácil de pesquisar, basta uma hashtag.

Blaya 3

Porquê lançar dois novos singles em simultâneo?
'Vem na Vibe' é um tema super-pop, cor de rosa, muito feminino. Fala de sair à noite para nos divertirmos e relaxar depois de uma semana de trabalho. O 'Má Vida' é o oposto: é mais underground, mais rap, mais dark, é um estilo que tem mais a ver comigo. Não podia lançar nem um nem outro sozinhos, os dois complementam-se. 'Vem na Vibe' é muito pop e eu não sou muito pop. E o 'Má Vida', apesar de ser eu própria, ia chocar muito as pessoas se fosse lançado sozinho.

Preocupa-te a mensagem que transmites?
Sempre fui uma pessoa muito irreverente. Sempre disse e fiz o que me apetecia, desde que seja legal (risos). Mas sei que 'Má Vida' choca os mais pequenos. Gosto de dar o exemplo mas não gosto de deixar de ser quem sou. E é isso que quero deixar bem claro em todos os concertos. No 'Má Vida' eu digo: "se f*deu, ficou na má vida". Mas se vejo muitas crianças no concerto, evito dizer essa parte. Gosto de mostrar às pessoas que elas podem ser o que quiserem mas que também têm de equilibrar as coisas.

Neste momento estás a ser aquilo que queres?
Completamente. Se bem que podia ter concertos todos os dias (risos). Gostava de ter um concerto com um mega-espetáculo. Para o ano, quando tivermos orçamento para isso, assim será. Vou lançar o meu álbum no final do outubro e por isso estou a ser exatamente aquilo que quero.

Agora sentes-te mais cantora ou mais bailarina?
Os dois. Não consigo escolher. Ao ser música consigo que as pessoas dancem. Se fosse apenas bailarina não conseguia tanto feedback. Como MC consigo transmitir melhor aquilo que sinto.

Quais as vantagens e as desvantagens de uma carreira a solo?
Não existem desvantagens. No início há sempre aquele receio de estares sozinha em palco, não te podes esquecer das letras, tens de criar uma ligação com o público. Mas agora já não me sinto nervosa em palco. A maior vantagem é estar com um grupo de pessoas à minha volta super interessantes, profissionais e trabalhadoras e eu ser "a Boss" (risos).

Blaya by nashdoeswork-9852

Enquanto artista é importante para ti seres um exemplo de emancipação feminina?
Sempre tentei fazer com que as mulheres se sentissem à vontade com o seu corpo, que sentissem vontade e prazer em olhar para elas próprias e de dançar, mesmo não sabendo. Há sempre uma maneira de aprender a sentir-se mais sensual quando se dança. Foi isso que eu quis passar com o Pack 5 Bundas [aulas de dança]. Podemos ser sensuais, fazer exercício, dançar para o nosso parceiro, temos é de acreditar em nós. Quero continuar a dar voz a todas as mulheres que se sintam envergonhadas a dançar.

No verão lançaste 'Mulheres, Sexo & Manias', o teu primeiro livro. De que fala?
São alguns dos contos eróticos que escrevi no meu grupo secreto feminino do Facebook e do YouTube, Late Night Blaya. Aqui em Portugal não há nenhuma mulher a publicar contos eróticos. São contos eróticos de bolso porque dá para ler muito rápido, as histórias passam-se de segunda-feira a sábado, em locais e situações diferentes. E ao domingo os leitores podem escrever o seu próprio conto. Não tem nada de autobiográfico.

Quem é a Karla Rodrigues?
É a mesma pessoa que a Blaya. A diferença principal é que sou atrevida e sensual no palco mas fora dele, na vida normal, sou super-descontraída. A Karla é menos sensual. Os meus pais, amigos próximos e o meu namorado ainda me chamam Karla.

 (fotos de Diogo Batista e Nash Does Work)