Por isso se regressou ao Meco, onde já se foi tão feliz, numa mudança arriscada da cidade para o campo, com todas as vantagens e desvantagens que tal descentralização acarreta. Continua a não ser propriamente canja chegar à Herdade do Cabeço da Flauta, sobretudo no primeiro dia de festival, quando o público está mais sôfrego em chegar e aqueles que por cá se instalam por 3 dias carregam às costas (quer dizer, nas malas dos carros) as suas bagagens e expetativas. Porém, há mais vias de acesso até à estrada do festival, a logística de transportes e sinalização na estrada foi estudada ao milímetro pela organização e os festivaleiros são mais conscienciosos e rumam mais cedo para o recinto, agora disposto de uma forma mais inteligente, com uma entrada mais prática para os parques de estacionamento arruados e com “arrumadores”. Apesar do primeiro dia de festa ter sido aquele que estava esgotado, sábado logo veremos se a estrutura não colapsa ligeiramente, no sentido em que haverá maior circulação na região de não festivaleiros com destino às praias.

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Na adaptação aos tempos, o SBSR fez, nos últimos anos, uma q.b. polémica aproximação às sonoridades hip hop. Na presente edição, tal tendência está mais esbatida e a aposta parece seguir mais pelos trilhos da soul/R&B, em projetos ecléticos e cheios de swing, com alguma eletrónica à mistura. No fundo, sonoridades que rimam melhor com o presente cenário bucólico e descontraído do festival. Veja-se o caso dos Jungle, projeto liderado pelos amigos de infância Josh Lloyd-Watson e Tom McFarland, regressado a Portugal depois de ter atuado nos últimos Vodafone Paredes de Coura e Super Bock em Stock. O coletivo inglês composto por sete músicos assinou um dos melhores concertos da noite no sentido em que galvanizou a multidão. Foi impossível não dançar, “movendo as ancas”, a pedido dos próprios. E finalmente o público assistia no Palco Super Bock (o principal) a um concerto digno de nota.

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É que antes, com honras de inauguração deste palco e direito a alguns fãs agarrados às grades, atuara Cat Power, pela segunda vez num SBSR. A razão, mais que possível, para que agora a cantora/compositora não se tivesse deixado fotografar por nenhum meio de comunicação social, pode ser o facto de estar em baixo de forma. O pior foi constatar que esta expressão serve igualmente para descrever a qualidade da sua voz e o seu interesse artístico. É um trocadilho do mais fácil que há, mas Cat perdeu de facto o seu power. Já não há chama ali. Foi um martírio ouvi-la cantar, isto quando se percebeu o que dizia. Deu pena assistir ao esforço que os músicos fizeram para a acompanhar sempre que entrava fora de tempo e/ou prolongava demais as notas no tempo. “Assassinou”, nas palavras dos fãs agora de bigodes tristes, as grandes canções que lhe trouxeram algum culto. Sabem aquelas sobremesas desconjuntadas à moderna, com os ingredientes dispersos pelo prato? Foi o que ela fez com as canções.

Já no palco EDP a luta foi outra. Aos barcelences Glockenwise aconselha-se que repensem a sua indumentária uniformizada e, sobretudo, a tendência para cantar arrastado à Manel Cruz. A Marlon Williams - pela quarta vez em Portugal após atuações em Paredes de Coura, no Festival para Gente Sentada (Braga) e no LAV – nada a apontar, numa atuação que de tão interessante merecia um ambiente diferente, em sala fechada, onde as suas canções agridoces pudessem florescer condignamente em vez de passarem despercebidas pela multidão. Depois veio a sensação Dino D’Santiago, que graças à sua multiculturalidade inteligente merece todo o sucesso que está a viver. O músico voltaria a dar o ar da sua graça em dois temas do set a seguir assinado pelo amigo Branko.

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O palco encerraria ao som dos Metronomy que, a brincar a brincar, já andam há 20 anos a contagiar a malta com o seu ritmo dançante. Já vimos melhor deles mas ainda assim muitos desistiram dos The 1975 para com esta descontraída banda britânica festivalar. Aviso: Na escala da evolução musical, os The 1975 estão só um degrau acima de uns One Direction. Bem sabemos que nasceram em Manchester, berço de tantas bandas icónicas, mas a verdade é que o seu pop mellow vai direto aos corações das meninas de 20 anos aos gritinhos (à moda dos The Beatles) mas não ficará para a história como outros projetos seus conterrâneos.

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Conan Osiris, convidado do Palco Somersby, tem esbatido o fator novidade. Temas novos ou um descanso na intensa agenda do artista, sob o risco de perder encanto, podem ser as próximas etapas no seu percurso fulgurante. “Hoje acordei a sentir-me uma m*rda... mas como é que eu posso ser humilde com este amor todo que vocês me estão a dar? Então, se sou m*rda, vamos chafurdar", confessou. OK, feno no recinto não falta.

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E por fim, Lana del Rey, o motivo da herdade cheia neste primeiro dia de SBSR. De regresso ao Meco onde atuara há sete anos, a cantora que desde então se agigantou apresentou um espetáculo visual bastante cuidado, ilustrando as canções de uma tristeza sensual que são seu apanágio. Linda com makeup, ela tirou selfies com os fãs da fila da frente, deu autógrafos, andou num baloiço gigante, trouxe-nos bailarinas/coristas sexy. “Vamos cantar músicas antigas, músicas novas, coisas do novo álbum”, disse derretendo corações. E não mentiu. No final do verão ouviremos de novo falar sobre ela a propósito do lançamento do novo disco ‘Norman Fucking Rockwell’.

Finda a sessão e de barriga ainda a dar as horas por música, no regresso a casa Orville Peck no máximo, ao volante de um cabriolet… Brincadeirinha, fomos a pé para a tenda. 

(Fotos de Nuno Andrade, com excepção da Lana del Rey cedida pela produção)