Este álbum dos GROGNation, produzido totalmente pelo Sam the Kid, esperou a altura certa para ser construído e conta com 6 músicas referentes ao corpo e a partes dele. O grupo conta com mais de dez anos de existência e admite que “o melhor é
ainda podermos estar juntos com o mesmo objetivo, que é fazer música”.

O que é que significa o álbum “Anatomia de GROG”?  

Nastyfactor: Este é um projeto que estamos para fazer há algum tempo, todo produzido pelo Sam the Kid. Lembro-me que, em 2014 houve o primeiro contacto nesse sentido. Só que, na altura, estávamos a fazer outro projeto – no qual o Sam até produziu algumas faixas. Ficámos sempre naquela de na próxima fazemos, depois veio o próximo e não fizemos. Era um projeto inevitável e, em 2019, começamos a perceber que era a fase das nossas vidas em que fazia sentido.

Porque é que era um projeto inevitável? 

Nastyfactor: Todos nós temos o Sam como uma referência, todos crescemos a ouvir o Sam. E teres a oportunidade de fazer um trabalho todo produzido por ele, sentires que ele tem interesse em trabalhar contigo, é uma coisa que é inevitável, vais ter que fazer isso. Nós podíamos ter feito logo em 2014, só que se calhar não era a altura certa e esta foi a altura certa. 


A primeira música a sair foi a “Pescoço”. Tinham muita vontade que essa saísse em primeiro? 

Nastyfactor: Desde o início, sabíamos que íamos lançar aos pouquinhos. Nunca tínhamos feito e queríamos experimentar este modelo de lançamento. Não foi a primeira música a estar pronta. Foi, basicamente: “temos músicas, esta música está boa, vamos lançar”. Eu não sei se há uma única música que dá o sentido ao projeto, acho que são todas.

Qual é a parte do corpo – neste caso, a música – preferida de cada um de vocês? 

Neck: A nível pessoal, eu gosto de todas, mas aquela de que gosto mais é o “Orelhas”, pela forma como nós trabalhámos a dinâmica do som.

Nastyfactor: Eu gosto de todas as músicas também. Principalmente neste projeto, é um bocado difícil, porque sinto que é possivelmente o nosso projeto mais forte a nível de sons, do primeiro ao último. 

No início, quantas vezes ouvem a mesma música num dia? 

Neck: Uma vez ou duas. Eu não ouço muito os sons para não me cansar e, inclusive, nem vi o videoclipe do “Coração” antes de sair, para haver efeito surpresa. 

Nastyfactor: Eu, por acaso, ouço, principalmente no estúdio quando acabamos de gravar o som. Ouço vezes demais, fico a curtir o som, para perceber que é isto mesmo. Em sessões à noite, já cheguei a sair do estúdio às 3 ou 4 da manhã, só a ouvir em loop as coisas que estávamos a fazer. Acho que é importante tu também seres teu fã.


 

"A nossa química funciona muito bem [...] já fazemos músicas há mais de 10 anos
e
conhecemo-nos bem"


 

Sendo cinco, é fácil convergirem e fazerem sons de que os cinco gostem ou com os quais se identifiquem?

Neck: Eu acho que aqui na GROG é uma coisa muito natural. Nós sempre tivemos a liberdade de entrar nos sons que queremos e a capacidade de sentir quando estamos a mais num som. A nossa química funciona muito bem nesse aspeto, porque já fazemos músicas há mais de 10 anos e conhecemo-nos bem. 

Nastyfactor: Já não temos aquela cena de ter de entrar em tudo. Consegues perceber no que é que tu te enquadras e se tens alguma coisa interessante para dizer naquela música.  

Em retrospetiva, o que é que acham que mudou no mundo do Hip Hop desde que começaram até agora? 

Neck: A nível nacional, mudou muito, o estilo afirmou-se. Quando nós começámos, ainda havia muita gente que não sabia o que era rap e Mcs. Nestes últimos 10 anos, vês um crescimento grande, tens rap em todo lado. O crescimento do YouTube ajudou muito para teres uma plataforma onde podes divulgar a tua música de forma independente. 

Nastyfactor: Na altura em que começamos, nós tivemos a sorte de ter algum público e de começar a dar concertos, mas da nossa geração eram muito poucos aqueles que conseguiam efetivamente tocar, porque houve uma fase muito estranha no Hip Hop em Portugal. Agora há muito espaços onde podes comunicar a tua música, muitos eventos, festivais, concertos, muita gente a ouvir a nossa música, e foi mais isso que mudou. E, sem dúvida, o material, há mais acesso ao material. 


 

"O objetivo é sempre chegar à outra pessoa e conseguir que ela se identifique -
seja a chorar,
a rir ou em modo festivaleiro"


 

Voltando ao álbum, o que é que vocês querem despertar em quem vos ouve? 

Nastyfactor:  Nunca vou esquecer um tweet que vi há muitos anos, de uma miúda a dizer que não conseguia ouvir um som específico da GROG sem chorar. Eu achei isso lindo, como é que nós conseguimos com uma música despertar esse tipo de sentimentos. Desde então, a minha cena é tentar ao máximo despertar algum sentimento.  Eu tenho essa preocupação quando estou a escrever, porque as palavras têm a força que tu lhes dás. 

Neck: No fundo, o objetivo é sempre chegar à outra pessoa e conseguir que ela se identifique - seja a chorar, a rir ou em modo festivaleiro. É importante criar sentimento nas outras pessoas, se não, não estás a fazer um bom trabalho.

Hoje, passados mais de dez anos, onde é que vocês gostam mais de estar? Em estúdio, a escrever, em palco a atuar… 

Nastyfactor: O sítio mais divertido é, sem dúvida, o palco. Mas não é só o palco, o palco é a cereja no topo do bolo. O divertido é o caminho para lá, a viagem, o estarmos juntos, depois do concerto estarmos todos no hotel à conversa, na brincadeira. 

Neck: A melhor cena é ao final de dez anos ainda podermos estar juntos com o mesmo objetivo, que é fazer música. É em cima do palco que todos nós nos sentimos bem. Se há sítio onde sou feliz é em cima do palco.

O que é que têm reservado para os próximos tempos? 

Nastyfactor: Vamos ter alguns concertos. Dia 14 de Maio temos a nossa apresentação no Hard Club, no Porto, e no dia 21 de Maio vamos ter no Time Out, em Lisboa. Esses vão ser concertos especiais, mas obviamente o pessoal vai poder apanhar-nos noutros sítios.