Crescer no Casalinho da Ajuda inspirou as letras que escreves?
Ya, ajudou bué porque era um sítio que tinha muita diversidade. Cresci a ouvir rap crioulo, música cigana, funaná, muita música guineense antiga...
Começaste a produzir e a compor aos 14 anos. Podes contar-nos como surgiu o teu interesse pela música?
A música nunca foi algo que quis fazer. Em miúdo gostava imenso de ver os Ídolos, mas nunca me passou pela cabeça que também o queria fazer. Só que fui sempre bué curioso, com pc’s, tecnologia e também sobre como se fazia uma música. Fiz a minha primeira música sem querer.
«Quando dei por mim, o bichinho da música estava a aparecer e eu a gostar de criar e fazer cenas novas»»
Bluay
Queres partilhar essa história?
Tinha um colega que disse que cantava para impressionar as raparigas. E eu também o queria fazer (risos). Menti-lhe, dizendo que também sabia cantar e ele, no dia seguinte, apareceu a dizer: "Bora fazer uma música”. E fizemos. Comecei a perguntar-lhe como é que se fazia, fui instalar um programa no pc e pesquisei. Tentei, tentei e tentei. Quando dei por mim, o bichinho da música estava a aparecer e eu a gostar de criar e fazer cenas novas.
Como defines a trajetória da tua carreira desde o lançamento da “Louco” com o Piruka até hoje?
Um trajeto cheio de altos e baixos. Aquela música [Louco] foi um alto gigante. Fiz a brincar, era a minha segunda música. Pensei: “Ei, agora sou um músico a sério” (risos). Mas não o sabia ser. Lancei dois ou três temas e fui meter-me no estúdio a experimentar e a conhecer-me a mim próprio, para depois voltar a lançar com o nível que eu achava que era fixe. Não considero essa parte um baixo, mas sim um período onde estive a ganhar balanço para voltar a lançar música.
O amor costuma ser um tema central nas músicas que compões, mas já disseste em entrevista que não querias fazer disso a tua “imagem de marca”. Que facetas do Bluay queres dar a conhecer?
Quero que conheçam o Bluay. Que conheçam a mim próprio, quem eu sou. Os meus projetos marcam certos episódios da minha vida e, depois, tento transformar isso em música. Para mim, são esses os meus melhores temas, onde sou realmente eu. Claro que quero dar essa faceta mais “vendável”, mas ao mesmo tempo quero dar uma faceta mais real.
Todas as músicas que escreves têm um teor mais pessoal?
As melhores, sim. As de love, as melhores que fiz, foi quando comecei a ficar apaixonado pela minha mulher. Acabam sempre por ter um teor de verdade.
«Os meus projetos marcam certos episódios da minha vida e, depois, tento transformar isso em música»
Bluay
No último ano lançaste quatro singles. O teu primeiro álbum de originais está próximo?
Tudo indica que seja para o ano. Só falta terminar o que está criado, que também dá trabalho. Mas está quase.
A tua música mostra que gostas de experimentar diferentes estilos, desde rap a baladas. Que outro tipo de estilos queres explorar?
Sinceramente, nunca me vi a experimentar outros. São fases da vida. O ano passado estava mais happy, numa fase mais louca, então produzia mais afros. Agora encontro-me numa fase mais chill e estou a fazer sons nessa vibe. Quem sabe, daqui a uns anos posso estar mais numa vibe de pimbalhada… (risos). Nunca se sabe. É mesmo uma questão de fase de vida.
E o que gostas mais de ouvir?
Gosto de ouvir trap brasileiro, rap crioulo, reggae, música popular brasileira. Ando por esses estilos.
Com a vitória do prémio Revelação nos prémios Play e a participação no Festival da Canção, consideras que este foi o ano da tua afirmação?
Ainda não. Sinto que este foi o ano em que semeei, mas não foi o ano de colher. Está naquela linha ténue entre o “vais-te afirmar” ou “não te vais afirmar”. Falta o álbum, faltam sons, falta trabalho. Mas vai acontecer.
«Sinto que este foi o ano em que semeei, mas não foi o ano de colher [...] Falta o álbum, faltam sons, falta trabalho. Mas vai acontecer»
Bluay
Acerca da “Ninguém”, tiveste o papel de intérprete e autor. A música é uma mensagem que estás a dar a ti próprio?
É mesmo. Sempre disse que se fosse para o Festival da Canção tinha de ser algo que é meu, não algo festivaleiro. Sempre quis passar essa mensagem e esse meu lado. De ser como Ninguém, de ser diferente e do quão especial foi essa descoberta do que é ser como ninguém. Culminou na altura certa com o Festival, com o convite, tudo bateu certo. É um som super especial, do qual gosto imenso da letra. Tive imenso cuidado com essa letra. Normalmente escrevo tudo numa sessão, mas, neste caso, fui para casa namorar esse tema. O conceito já tinha na cabeça, mas é uma letra muito pessoal da qual tenho bué orgulho.
Qual é o papel que gostas mais? O de cantor ou o de intérprete?
De ser autor. Gosto muito de escrever para os outros.
O que é que os teus fãs podem esperar nos próximos tempos?
Muita música, consistência e muitas surpresas boas. Vou tentar “muitos sabores”. Uma salada de frutas, mas, tudo junto, vai saber muito bem (risos).