“Ao Fundo da Rua” é o álbum de estreia de Nena, que lançou há dois anos o seu primeiro
single de sucesso “Portas do Sol”. A melhor parte deste êxito, explica à FORUM, foi a “sensação de saber que a música chegou a tantos sítios de Portugal”. O primeiro disco de Nena ficou disponível ao público no dia 18 de novembro e, em entrevista, a cantora revela que este trabalho reúne temas que “cantam” histórias de amor e a cidade de Lisboa, explicando este projeto marca o fim de um capítulo e o início de um novo caminho no percurso de Nena. 


 
“Ao Fundo da Rua” é o teu álbum de estreia. Há alguma música mais especial para ti no álbum? 

Esta última música que lancei [“Segui”] é muito especial para mim. Porque fala sobre deixarmos para trás alguma coisa que já não interessa, ou alguém que já não nos interessa assim tanto, e seguirmos em frente com a nossa vida. Para mim, tem muito significado porque foi a última música que escrevi para o disco e foi a música que deu nome ao disco. Isto no sentido de olhar para este álbum e dizer: “Vou passar para outro capítulo”. Este é um capítulo da minha vida, mas agora vamos passar para um próximo. 


E esse capítulo já está definido?
 

Não, de todo. Sei que quero experimentar coisas novas, mas não sei mesmo quais. 

 

 

 


Até aqui, o amor é um tema transversal a todas as tuas músicas, queres optar por outros temas? 
 

Sim. Não é só no que tenho para dizer, no que quero escrever. Quero tentar ir ainda mais longe do que o tema do amor, especificamente relações, mas também quero ir mais longe na sonoridade. Quero tentar fazer coisas diferentes. 


A “Passo a Passo” já tem uma sonoridade muito diferente…
 

Sim. Tenho reparado, durante os concertos, que adoro cantar essa música, porque sinto uma energia do público totalmente diferente. Cada vez mais, gosto de sentir essa energia e, por isso, tem-me dado a perceção de que quero fazer mais música nesse sentido. Obviamente, não tirando a identidade de quem eu sou enquanto artista. 

 


«Acho que o nosso país está cada vez mais aberto à arte e àquilo que as pessoas têm para mostrar. Devemos sempre arriscar»


E porque é que o amor é um tema transversal para ti e gostas de falar sobre isso nas tuas músicas?
 

Não sei, gosto muito. Tem sido o tema sobre o qual eu tenho escrito a minha vida inteira. Primeiro, é um tema com o qual toda a gente se relaciona de alguma forma. Podes pegar de tantas formas, podes contar de tantos pontos de vista diferentes, isso é super interessante. Pode ser não só o amor entre pessoas que estão numa relação amorosa, mas também entre familiares, há tanta coisa. 


Lisboa também é tema. Tens uma relação especial com a cidade?
 

Sim, sabia já desde há algum tempo que gostava que este álbum fosse à volta da cidade de Lisboa. Queria muito que este álbum refletisse a cidade, as ruas, as pessoas, as histórias, as memórias que foram vividas num certo recanto. E espero ter conseguido passar isso. 

 

 


O tema “Portas do Sol” teve o videoclipe gravado, de certa forma, ao acaso…
 

Sim. A realizadora do videoclipe é uma das minhas melhores amigas e combinámos um dia alugar um Tuk Tuk. Ela convidou um amigo para filmar, metemo-nos dentro do Tuk Tuk com mais amigos meus e fomos fazendo o percurso dos sítios de que eu falo na música. Foi muito giro, ficam boas memórias de ter feito isso com amigos. 


Essa música conquistou tripla platina. É importante para ti esse reconhecimento?
 

Sim, claro que é um reconhecimento que me deixa feliz, mas não há nada como a sensação de saber que a música chegou a tantos sítios de Portugal. Ir ao norte, sul e centro do país e perceber que as pessoas conhecem a música e lhes tocou de alguma forma é mesmo o mais importante. 


Começaste a escreves muito nova, com 12 anos, esta sempre foi uma vontade?
 

Sim. Eu comecei a escrever em inglês, porque na altura ouvia muito música country e ficava a ideia de contar uma história através da música. Apenas mais tarde, em 2019, quando conheci o João Só – que é o produtor deste álbum em conjunto com o Ricardo Ferreira – é que optei por escrever em português. Desde aí, não consigo mais não escrever em português. Comecei a escrever, as músicas começaram a surgir e não consegui parar mais.

 


«É inevitável uma pessoa não duvidar das suas aptidões e pensar se é capaz de fazer isso ou não, mas eu sonhei sempre»


Qual é para ti a parte mais bonita de todo o processo criativo, até chegares à versão final de uma música?
 

Acho que a parte de que gosto mais é quando estou sozinha no meu quarto a escrever a música e estou a pôr aquilo em papel como se mais ninguém fosse ouvir, só pela necessidade de dizer alguma coisa. Claro que a parte de estúdio, onde vemos a música crescer, e cantar para o público também é emocionante. Mas, para mim, a parte mais especial é esta experiência comigo mesma. 


Tens músicas que nunca chegaram a ir para estúdio?
 

Muitas mesmo. Neste momento, devo ter nas minhas gravações umas cem músicas. 


E gostavas de dar algumas músicas tuas a outros artistas?
 

Gostava, definitivamente. Tenho músicas, nas minhas gravações, que ao ouvir penso que ficariam muito bem na voz de certa pessoa. Eu gostava muito de compor para outros artistas e espero ter essa oportunidade. 

 

 

 


E existem projetos para
feats? 

É outra coisa que gostava de fazer. Este álbum fui só eu, a minha voz, era o meu álbum de estreia e queria mostrar quem eu era. Mas para projetos futuros, gostava muito de colaborar com outros artistas.


Estudaste Ciências da Comunicação. Chegaste a trabalhar na área?
 

Sim. Estou a tirar o mestrado em Marketing, vou entregar agora a minha tese, e estou a trabalhar em part-time numa empresa na área de comunicação e marketing. Comecei mais à séria na música durante a pandemia e não sabia como é que as coisas se iam encaminhar. Por isso, tive de jogar pelo seguro, acabar o mestrado e continuar no trabalho em que estava. Mas gostava muito de fazer da música a minha vida. Acho que tudo o que fez parte do meu caminho – estes cursos, os sítios onde trabalhei – são tudo ferramentas a aplicar na área da música. 


A música sempre foi um sonho para ti. Que outros sonhos tens guardados que gostavas de concretizar?
 

Eu acho que é mesmo só a música (risos). Acho que era aquele passo que eu tinha de dar e estou a dar neste momento. 


Quais os teus planos para o próximo ano?
 

O próximo ano vai ser de concertos. Vai ser esse o foco número um: ir a cada cantinho de Portugal mostrar a minha música, mostrar o álbum e crescer enquanto performer

 


«Tudo o que fez parte do meu caminho – estes cursos, os sítios onde trabalhei – são tudo ferramentas para a área da música»

 
Sempre acreditaste em ti?
 

Há momentos e momentos. É inevitável uma pessoa não duvidar das suas aptidões e pensar se é capaz de fazer isso ou não, mas eu sonhei sempre. Se achava que ia chegar ou não, fui vendo, agora sonhar, sonhava sempre. 


Tens alguma mensagem que queiras deixar a um jovem que goste de música e queira fazer disso vida?
 

Uma das coisas que tenho aprendido é que dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Se alguém quiser trabalhar e, ao mesmo tempo, fazer música, com organização consegue fazer um bocadinho de tudo. Definitivamente, a mensagem é fazer aquilo de que se gosta e não ter medo de arriscar. Acho que o nosso país está cada vez mais aberto à arte e àquilo que as pessoas têm para mostrar. Devemos sempre arriscar.