Lançaste, recentemente, o single Escuta. Como defines a canção?

Esta música é o mais próximo que eu estive de mim, enquanto criador e pessoa. Tive uma fase de desenvolvimento pessoal e isto é o culminar dessa fase. Se eu tivesse de definir, acho que é mesmo o recomeço de tudo. Em 2019, investi todo o meu dinheiro no meu projeto e em 2020 tiraram-me o tapete. Agora, as rádios não querem saber de mim, mas eu lido bem com isso, porque o inevitável tem mais força.

 

 

 

Conseguiste manter o foco e continuar a querer fazer música?

Eu vivo da música e há uma cena de que não consegues fugir, que é quereres morrer por uma coisa. Eu acordo de manhã e não consigo não fazer música, eu vou-me deitar e, às vezes, nem consigo dormir para fazer música. O drive não falta, é eu querer, saber que enquanto artista quero pôr bons trabalhos na rua e o que isso envolve - maturidade em termos de sentimentos e esperteza em termos de marketing. Há certos aspetos que não estavam desenvolvidos e estou a desenvolver.

A música é o teu propósito de vida?

É a arte, passar uma mensagem. Imagino-me daqui a 20 anos a esculpir ou a pintar e tenho a curiosidade de entrar no mundo da moda, mas primeiro ainda tenho coisas a fazer na música. Eu gosto de gritar e falar alto, só que se gritar apanho 50 pessoas, se fizer arte apanho milhões.

Este processo de desenvolvimento pessoal vem desde quando?

Vem desde o Porquê, que foi o meu primeiro single. Tu não sabes como vai ser nada, pus expetativas em coisas, o que não devia ter feito, e fui claramente desiludido. Portanto, assim que comecei a lançar, comecei neste processo.


«Esta música é o mais próximo que eu estive de mim, enquanto criador e pessoa»


Focavas-te no álbum e esquecias-te da envolvente?

Ya. Uma cena muito importante das pessoas que fazem arte é: o que tu fazes é o que tu és. Literalmente, a tua arte é um bocado de ti. Antes eu pensava “se eu trabalhar para a minha profissão, eu vou ser muito mais feliz”, mas depois percebi que não. Quando os dois estão ligados, quanto mais olhas para ti mais percebes que tudo à tua volta atrai. Eu trabalhei muito, conheci-me melhor, percebi o que eu queria fazer, ouvir e dar ao mundo.

O que é que tu queres fazer, ouvir e dar ao mundo?

Eu quero ver pessoas felizes à minha frente. Quero fazer bons concertos e dar boas memórias. Não quero ser a pessoa, quero ser o momento. Só fico bem quando os outros estão bem e essa é uma das coisas que mudou mais neste recomeço: a minha música é com os outros, para os outros. Eu envolvi montes de gente no trabalho, a escrever e a produzir comigo, a dar-me opiniões, e isso foi claramente um Francisco 2.0.

Ouvi dizer que tens um álbum que vai sair no próximo ano. Vai seguir esta sonoridade?

Ya, estou bué feliz. Tem mesmo esta sonoridade. Vou ser um bocadinho mais extremista no álbum, porque isto são singles e foi um meio termo que nós pensámos. O Escuta é simples em termos de produção, só que a composição está bem feita. Achámos que era um bom compromisso entre aquilo que eu sinto agora e o que vou dar para o futuro. Mas eu vou lançar o álbum e estou bué feliz, porque, mais do que nunca, eu amo mesmo o que estou a fazer, sou o meu maior fã, agora.

 

 

 

Já atingiste aquilo que queres ser enquanto artista?

Não, de todo. Isso era incrível, mas estou a trabalhar para isso. Ainda não sou o quero ser, mas estou a crescer e é notório. Já consigo aproveitar a viagem, não espero pelo objetivo para me alimentar o caminho porque depois nem alimenta, que era o que acontecia. Eu pensei em ter um milhão de views, em ter platinas, em ir a festivais de verão tocar – e, no primeiro ano, dei check, check, check. E depois desvalorizava, o drive era sempre falacioso, autodestrutivo. Agora, estou bem, quero fazer música. 

Com que estilo queres marcar o teu percurso?

Com R&B, quero trazer o R&B de volta.

Tens pessoas a quem peças, rigorosamente, opiniões?

Agora, tenho. O Diogo, que tem os TRH comigo, que fez o Escuta. Agora, muito recentemente, e acredita que é uma grande conquista, mostro à minha família, os meus pais e ao meu irmão. Antes só lhes mostrava quando saía e agora mostro-lhes antes porque sei que me importo e não vou fugir disso.

Tu és intérprete, compositor e produtor. Qual é a tua parte preferida?

É chamar alguém ao consultório e fazer uma música. É a minha parte preferida, foi onde eu conheci as melhores pessoas, onde aprendi as melhores coisas e onde és posto em check, no bom sentido. As tuas emoções, a tua visão de business, estás a partilhá-la com alguém para a unir. É um processo bué bonito quando há maturidade, abertura e amor para partilhar isso com o outro. Música é isso e a malta esquece-se. Música são as pessoas, as que a fazem e as que a ouvem.


«Eu trabalhei muito, conheci-me melhor, percebi o que eu queria fazer, ouvir e dar ao mundo»


Qual é o lado mais difícil de ser cantor e fazer música em Portugal?

O mais difícil é que, às vezes, fazes grandes coisas e não é o suficiente porque o mercado não é grande o suficiente. Mas isso faz com que para seres artista em Portugal tenhas de lutar mais que os outros e isso nunca foi um problema, eu vou lutar mais que todos e vai dar certo.

Levantado o véu do que será o álbum, que ideia nos deixas?

O álbum vai ser muito sobre amor, de quanto tens de te sacrificar para amar. O amor é um sacrifício e, por isso, fica para sempre tudo o que é feito com amor. É muito à volta dessa ideia de imortalizares com amor. Tudo o que eu me martirizei por não ter feito no álbum anterior, vou fazer e isso é das coisas que me deixa mais feliz. Eu estou muito satisfeito com o álbum, é uma sonoridade que não ouço há algum tempo. Eu gosto de uma sonoridade bué específica e há falta disso, as pessoas esquecem-se.

Que sonoridade é essa?

R&B contemporâneo.

 

 

 

Nos próximos meses, o que podemos esperar de ti?

Vou lançar bué música. No final do verão, vou lançar o meu primeiro artista, de que eu estou a fazer produção executiva. Depois, continuo a lançar singles e os meus trabalhos de composição para outros vão começar a sair. Segunda semana de janeiro ou fevereiro, estou a ‘dropar’ o meu álbum e espero não estar parado o resto do ano.

Se tivesses de deixar uma mensagem a quem quer fazer música em Portugal, o que dirias?

Diria que só nós é que nos conseguimos salvar a nós próprios.