A nova licenciatura da FCH-Católica em Filosofia, Política e Economia foi descrita, na altura do lançamento, como inovadora e até única em Portugal. Quais as características que as distinguem?
Trata-se da primeira a licenciatura do país em Filosofia, Política e Economia, mais conhecida pelo acrónimo que resulta da língua inglesa que é PPE (Philosophy, Politics and Economics). Esta é uma marca bastante conhecida em outros países. Contudo, em Portugal, esta será efetivamente a primeira oferta deste género. O que distingue este curso é o facto de aliar o saber-pensar ao saber-agir e ao saber-fazer. É um curso construído para promover a capacidade de reflexão e de pensamento crítico dos estudantes e, depois, desenvolver formas de aplicar essas competências na prática, tanto nas áreas da Política como da Economia.
De resto, na altura do lançamento, foi sublinhada a importância dessa abordagem para enfrentar os desafios atuais e do futuro...
Parece-nos que esta é, hoje em dia, uma questão essencial. A realidade que temos à nossa volta é tão complexa que é impossível dissociarmos os assuntos políticos da economia ou a economia das políticas públicas, por exemplo. Por outro lado, se queremos formar uma geração de pessoas capazes de transformar a sociedade, acreditamos que esse efeito transformador terá de nascer do aliar este saber pensar – ter um raciocínio próprio, crítico, analítico – ao saber-fazer e agir. Temos de conseguir de formar alunos que sejam capazes de construir uma sociedade melhor. O que pretendemos é formar pessoas capazes de agregar conhecimentos de várias áreas e que, no final, o resultado seja mais do que a soma das três partes – que sejam diplomados com uma visão integrada e holística dos problemas.
FCH-Católica lança primeira licenciatura do país em Filosofia, Política e Economia
Curso de licenciatura em Filosofia, Política e Economia da FCH-Católica arranca no ano letivo de 2021/2022.
Pensando precisamente no momento de conclusão desta nova formação, que tipo de saídas profissionais estarão à disposição dos diplomados?
Aquilo que pretendemos é formar alunos que venham a ser agentes transformadores da realidade. Por isso, acreditamos que este é um curso para formar futuros líderes. O PPE é conhecido, sobretudo no mundo anglo-saxónico, como um curso frequentado por antigos primeiros-ministros e até presidentes, no caso dos Estados Unidos da América. Contudo, não queremos formar líderes políticos apenas. Queremos formar líderes para diferentes áreas da sociedade, que poderão, como tal, atuar em vários tipos de organizações. Nesse sentido, os diplomados deste curso terão oportunidade de vir a ingressar num conjunto alargado de instituições políticas ou empresariais que estejam à procura de profissionais com esta capacidade de pensar os problemas de uma forma holística.
E como pensa que tem evoluído a procura por essas capacidades no mercado de trabalho?
Cada vez mais as organizações procuram essas capacidades. Não procuram apenas alguém que tenha uma competência técnica muito específica para fazer uma coisa e cuja função, daqui a três ou quatro anos, poderá já não existir. As empresas querem pessoas com capacidade de adaptação e de transformação da realidade. Nesse sentido, parece-me que os diplomados desta nova licenciatura em Filosofia, Política e Economia serão vistos como uma mais-valia por um conjunto alargado de instituições. Noutros países, vemos que há uma grande procura deste tipo de formação por parte do mercado de trabalho.
Olhando o momento de entrada neste novo curso, a que estudantes poderá interessar?
Penso que este curso irá interessar sobretudo a alunos que tenham um leque de interesses diversificado. E também aos estudantes que tenham a ambição de vir a contribuir para pensar e mudar problemas complexos que existem na sociedade nas organizações. Por essa razão, penso que será um perfil de aluno que, de alguma maneira, não tem definido o objetivo de ser "ultra especialista" numa determinada área, mas alguém que procura ter uma capacidade mais abrangente de olhar e transformar a realidade. Isto para além, obviamente, do interesse pelas áreas da Política e Economia e da apetência para desenvolver um raciocínio próprio sobre as questões.
Essa ideia de transversalidade que descreve é também destacada pela FCH-Católica como uma das marcas da sua oferta formativa. Porquê?
No caso deste novo curso, essa característica é bastante fácil de constatar, ao ser um curso que cruza, à partida três áreas do saber. Mas essa é também uma preocupação presente nos restantes cursos de licenciatura da FCH-Católica. Embora sejam licenciaturas focadas numa determinada área, não queremos que os alunos saiam da faculdade sem desenvolver competências noutros campos. Isto porque esse conhecimento permite-lhes ter uma visão mais completa e desenvolver capacidades muito úteis no seu futuro.
«Não podemos formar as pessoas numa área muito fechada. Isto é algo de que nos orgulhamos muito, na FCH-Católica. A interdisciplinaridade faz parte do nosso ADN»
Nelson Ribeiro, Diretor da FCH-Católica
Como é que essa abrangência se concretiza na oferta formativa?
Esta abrangência consegue-se, por um lado, através da construção dos currículos, onde existe um leque de disciplinas diversificadas. Depois, dentro das próprias disciplinas, procuramos fomentar uma visão interdisciplinar sobre problemas diversos. Isso também tem reflexo no corpo docente – nenhum dos nossos estudantes fará uma licenciatura tendo apenas professores especialistas numa área. Posso dar como exemplo a licenciatura em Comunicação Social e Cultural, onde os alunos não estudam apenas comunicação. Estudam também o fenómeno cultural e social, para melhor perceber os contextos em que a comunicação tem lugar. E têm, para além disso, um conjunto alargado de disciplinas opcionais de outras áreas que são incentivados a fazer. Inclusivamente, uma das grandes apostas da FCH-Católica para o próximo ano letivo é a reformulação do plano curricular deste curso que vai, precisamente, reforçar esta dimensão da transversalidade.
E qual a principal mais-valia que os estudantes podem retirar dessa característica?
Esta transversalidade é fundamental para quem está, hoje em dia, a tirar uma licenciatura, para que perceba que existem outras perspetivas para além da sua área específica. Não podemos formar as pessoas numa área muito fechada. Isto é algo de que nos orgulhamos muito, na FCH-Católica. A interdisciplinaridade faz parte do nosso ADN. Faz parte da filosofia da faculdade cultivar esta relação entre os vários saberes que, acredito, é fundamental para conseguirmos formar pessoas mais competentes, mais capazes. Não apenas para o presente, mas sobretudo para o futuro. Não nos podemos esquecer que estamos a formar alunos que vão ter de lidar com problemas que, hoje em dia, não existem.
Há alguma mensagem que queira deixar aos estudantes?
Gostaria de deixar uma mensagem de apelo à capacidade de resiliência dos estudantes, para superarmos este momento tão complicado que estamos a viver. Este é um momento difícil para todos e é também um momento complexo para os estudantes que estão no Ensino Superior, sendo um período claramente mais exigente. Contudo, tenho a expectativa de que, superada esta fase, este conjunto de alunos vai ter um conjunto de características muito especiais, ao ser uma geração que conseguiu lidar e ultrapassar um conjunto de obstáculos muito difíceis. Estou muito esperançado em que isso venha a contribuir para a criação de uma geração verdadeiramente transformadora do nosso futuro. Quanto aos estudantes que estão a terminar o 12.º ano, este deve ser também um momento bastante difícil. É um período de grandes decisões, de grande pressão com os exames, que ocorre em simultâneo com a pandemia. Gostaria de dizer a esses estudantes que não deixem de lutar por aquilo em que acreditam e pelos seus objetivos. Temos de ter consciência que vamos ultrapassar isto. Quando isso acontecer, os estudantes mais qualificados e capacitados vai conseguir ter oportunidades e singrar no futuro.