Um dos grandes contributos para a popularidade da Clubhouse aconteceu a 13 de fevereiro, quando um tweet ligou dois “pesos-pesados” da Internet a esta nova aplicação. Foi neste dia que o fundador e CEO da Tesla, Elon Musk, convidou o presidente russo Vladimir Putin para uma conversa. “Gostaria de se juntar a mim para uma conversa na Clubhouse?”, perguntou Musk, através do Twitter, antes de acrescentar, em russo: “Seria uma grande honra falar consigo”.
A conta oficial de Putin não respondeu diretamente ao tweet de Elon Musk. Contudo, algumas horas depois, de acordo com a Reuteurs, um porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse aos jornalistas, que a proposta era “muito interessante”, sendo necessário “compreender o que isto significa, o que está a ser proposto”.
A Clubhouse utiliza exclusivamente o formato áudio. O diário britânico The Guardian descreve a aplicação como “parte programa de rádio, parte audioconferência e parte Houseparty”.
Tal como Dmitry Peskov, muitas pessoas tentam, nesta altura, perceber exatamente qual a proposta da Clubhouse. A primeira impressão é, no mínimo, misteriosa. O site oficial da aplicação oferece apenas um emoji de saudação e uma curta mensagem: “Hey, ainda estamos a abrir, mas qualquer pessoa pode juntar-se com um convite de um utilizador”. Na página da app store, os criadores repetem a mesma informação, garantindo que “estão a trabalhar arduamente para conseguir adicionar pessoas à Clubhouse o mais rápido possível”.
O que é a Clubhouse?
A aplicação Clubhouse foi fundada em São Francisco, nos Estados Unidos da América, em março de 2020. Esta rede social tem a particularidade de utilizar exclusivamente o formato áudio – os utilizadores podem ouvir conversas, entrevistas e debates que estão divididos por tópicos. Não há partilha de fotos (a não ser a de perfil), nem envio de mensagens, nem partilha de vídeos. O diário britânico The Guardian descreve a aplicação como “parte programa de rádio, parte audioconferência e parte Houseparty”.
Outras das características desta aplicação é a sua aposta no conceito de “exclusividade” – um dado que fica inclusivamente claro no seu nome. Tal como referem os criadores, para entrar nesta rede social, é necessário o convite de um utilizador já “aceite” na aplicação, sendo que cada utilizador possui, depois de entrar, apenas dois convites. Os criadores explicam ainda que os utilizadores que não possuam convite podem entrar numa “lista de espera”.
Por outro lado, há ainda uma outra dimensão de exclusividade – a aplicação apenas existe na App Store, sendo exclusiva para iPhone. A empresa já anunciou, no início deste ano, que prevê lançar uma versão para Android.
O que encontra quem entra?
Depois de ver a sua entrada validada, o utilizador tem à sua disposição um conjunto de tópicos de interesse como Tecnologia, Livros ou Saúde. A partir desta seleção de interesses, a aplicação gera uma lista de “utilizadores para seguir” e de “salas de conversação”.
«Em maio de 2020, a Clubhouse tinha 1500 utilizadores [...]. A 1 de fevereiro de 2021, tinha 2 milhões de utilizadores. Duas semanas depois, esse número fixa-se nos 6 milhões»
Estas salas de conversação funcionam como audioconferências, que podem ter formatos diferentes. Algumas são fechadas à participação dos utilizadores, funcionando como um podcast gravado ao vivo. Outras, são abertas a participação, podendo os utilizadores fazer ouvir a sua voz. Ao mesmo tempo, qualquer utilizador pode ser orador, criando a sua própria sala de conversação. Existe ainda a possibilidade de criação de “clubes” que são descritos pela aplicação como “grupos baseados em interesses”.
Embora a aplicação não guarde registos das conversas realizadas, alguns utilizadores gravaram sessões que depois colocaram no YouTube. Nestes vídeos, é possível ver como o administrador da sala de conversação pode silenciar ou ativar os microfones dos participantes.
O crescimento desta aplicação tem sido fulgurante. Dois meses depois do lançamento, em maio de 2020, a Clubhouse tinha 1500 utilizadores e valia 100 mil dólares. A 1 de fevereiro de 2021, tinha 2 milhões de utilizadores. Duas semanas depois, esse número fixava-se nos 6 milhões.
O que explica o sucesso?
Para além de fazer o convite a Putin, Elon Musk tem sido um dos principais responsáveis pela exposição da Clubhouse. No início de fevereiro, o fundador da Tesla realizou uma “conversa surpresa” com o CEO da Robinhood, Vlad Tenev, que gerou muitos novos utilizadores, em parte devido à posição tomada por Musk no "Caso Gamespot". Outros nomes como o comediante Kevin Hart, o actor Ashton Kutcher ou os rappers Kanye West e Drake também ajudaram a consolidar a popularidade desta plataforma.
O sucesso da Clubhouse também tem levado alguns especialistas a destacar a popularidade do formato áudio – um fenómeno já registado com tendência crescente de consumo de podcasts, por exemplo. Num artigo intitulado “O futuro das redes sociais poderá ser o áudio”, publicado no portal MIT Technology Review, Tanya Basu destaca como a “intimidade da voz torna este formato muito mais apelativo, numa era de distanciamento social e isolamento”.
Este aumento da popularidade do formato não é apenas visível no crescimento de apps como a Clubhouse, a Discord ou a Cappucino, explica Tanya Basu, recordando que, durante o verão de 2020, o Twitter implementou “tweets de voz”, por exemplo. Contudo, e para já, destaca Tanya Basu, "as redes sociais baseadas em áudio parecem oferecer algo que as plataformas tradicionais não conseguem".