Evitar excessos, desperdício e assim apostar na sustentabilidade. São estas as palavras de ordem se, até 2050, queremos alcançar o objetivo de atingir a neutralidade carbónica. Essencialmente, a neutralidade carbónica consiste na redução das emissões de gases de efeito estufa em 50%, compensando assim aquelas que não conseguimos evitar.
Há questões que se levantam, contudo. Ter um Natal sustentável, por exemplo, parece difícil, não é verdade? Roupa nova, muito papel de embrulho e sobretudo, muita comida. Mas há muito que podemos fazer – comportamentos que podemos alterar, objetos a que podemos dar outra vida, outros que podemos evitar desperdiçar – para darmos um rumo diferente a uma época que está tão associada à família como ao consumo.
Luzes, árvores e ação
Por esta altura, a grande maioria das famílias já tem, provavelmente, a árvore de Natal montada, completamente decorada com adornos e luzes. De igual forma, na varanda ou na porta de entrada, talvez possamos encontrar luzes ou uma coroa que assinalem esta época. Depois de um ano arrumadas, por vezes, há lâmpadas que se fundem, uma ou outra bola que se parte e, às vezes, até às fitas parecem perder o seu brilho.
Em vez de as substituirmos com uma nova decoração comprada em loja, porque não apostar na nossa criatividade? Lembra-te das aulas de educação visual ou educação tecnológica: utiliza materiais velhos que tenhas em casa como tecidos, roupas, tampas ou até caixas de papel e cartão e utiliza-os para fazer novas peças decorativas. Uma caminhada pela rua, passando por um jardim ou um parque pode ajudar-te a dar um ar mais da época à tua árvore, pegando em madeira, folhas, bolotas ou pinhas que estejam caídas no chão e também dar-lhes uso para fazer novas peças de decoração.
Outro debate que existe é sobre a árvore de Natal. Devemos optar por uma árvore natural ou de plástico? A associação ambiental ZERO diz que a resposta a esta pergunta “não é óbvia nem simples”.
O abate de árvores no período de festas “não é um bom argumento a favor”, porque as árvores contribuem para a filtração de dióxido de carbono e produzem oxigénio. Contudo, existem explorações florestais que plantam árvores para este fim e trazem benefícios não só para a economia local, como ambientais, “promovendo a conservação de ecossistemas florestais”.
Quanto às árvores de plástico, “se por um lado evitam o abate de árvores verdadeiras”, os materiais de que são produzidas são poluentes e tóxicos, com o seu transporte também a deixar uma grande pegada de carbono por ser maioritariamente feito por navios que queimam combustíveis fósseis.
Resumidamente, para compensar o seu impacto ambiental, “sete vezes superior ao da árvore de Natal natural”, o ideal é utilizar uma mesma eventual árvore de Natal de plástico o máximo de vezes possível. Segundo a ZERO, estudos mostram que “para que os impactos ambientais que tem a mais sejam compensados” a árvore de Natal de plástico tem de ser utilizada em, pelo menos, sete Natais.
Não desperdiçar o jantar
Outro fator a ter em conta durante esta época festiva é o desperdício alimentar. A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) escreveu um texto sobre o tema onde são partilhados dados relativamente ao desperdício alimentar nos Estados Unidos da América (EUA) durante as épocas festivas. No ano de 2021, este fenómeno registou um aumento de 25% em relação a anos anteriores. No caso português, em 2021, estimava-se que cerca de um milhão de toneladas de alimento iria para o lixo, de acordo com Francisco Mello e Castro, então coordenador do movimento Unidos Contra o Desperdício em declarações ao Público.
Para combater este desperdício, a FMUL deixa algumas sugestões sobre como “planear um natal sustentável”, recomendando a dieta mediterrânica e sugerindo, para os que prefiram, a substituição da proteína animal por proteína de origem vegetal. A preferência por alimentos locais e de época, que têm “uma cadeia de distribuição curta” e minimizam “a pegada de carbono associada ao transporte de alimentos” é outra das boas práticas partilhadas, bem como fazer uma lista de compras contendo apenas os alimentos que vão ser consumidos, evitando desvios dos produtos lá colocados. Outras soluções passam por partilhar com amigos, vizinhos ou instituições de solidariedade, de forma a prestar apoio aos que mais precisam.
De qualquer forma, terminada a ceia, pode ainda sobrar comida. E esses alimentos podem ser reaproveitados no dia seguinte ou, caso não se preveja um consumo imediato, ser congelados para servir mais tarde. Os alimentos consumidos na ceia de Natal também podem ter nova vida, sendo reutilizados em novas receitas, evitando assim que se desperdice comida.
O desperdício em números
Para melhor compreender os desperdícios que se produzem nesta época, são necessários alguns números para nos ajudar. A associação ambiental Quercus partilhou, em 2020, uma análise com dados relacionado a este período festivo, fazendo uma comparação com outros países e deixou uma estimativa quanto ao desperdício produzido pelos portugueses na época do Natal.
Durante este período as famílias portuguesas desperdiçam aproximadamente: 19 milhões de palhinhas; 13 milhões de copos descartáveis; 6 milhões de pratos de comida cheios.
No que toca às decorações, estima-se que, ao todo, nesta época, sejam descartadas 54 toneladas de luzes de Natal e cerca de 1,2 milhões de pinheiros de Natal vão para o lixo terminadas as festividades.
E para embrulhar os presentes que estão debaixo das árvores? É estimado pela Quercus que no Natal, sejam descartados para embrulhar presentes aproximadamente 12 milhões de rolos de papel de embrulho e que, para produzir esse papel de embrulho cerca de 3 milhões de árvores sejam abatidas. Já a fita de embrulho, essa seria suficiente “para enrolar o próprio Planeta Terra” revela a Quercus.
Resumidamente, no total, nas casas portuguesas, produz-se no Natal 24% do lixo que se produz no ano todo.
Alguns números sobre o desperdício no Natal
- Desperdiçam-se aproximadamente 19 milhões de palhinhas; 13 milhões de copos descartáveis; 6 milhões de pratos de comida cheios;
- Descartam-se 54 toneladas de luzes de Natal e cerca de 1,2 milhões de pinheiros de Natal vão para o lixo terminadas as festividades;
- Produz-se nas casas portuguesas no Natal 24% do lixo que se produz no ano todo.
Um Natal mais verde é possível?
O aumento no consumo na época natalícia levanta a questão: é a sustentabilidade nesta época possível? Segundo o Observatório Cetelem, em 2021, 79% dos portugueses considerava que sim. Embora sejam muitos os que concordam que a sustentabilidade fica para segundo plano (82%), 90% acham que esta é uma época de consumo excessivo, com 75% dos portugueses a admitir que pretendem adotar práticas no sentido de tornar este período festivo mais sustentável.
Algumas das medidas que os portugueses iam adotar envolviam a reutilização dos enfeites de Natal (44%) e da árvore de Natal artificial (36%), bem como de sacos para utilizar nas suas compras (24%) e de papel de embrulho e laços (21%), com 23% a apostar na “compra apenas de coisas essenciais”. Os mais preocupados em adotar pelo menos uma destas medidas sustentáveis são os jovens com idades entre os 18 e os 25 anos (60%).
Prendas sustentáveis no sapatinho
Não podíamos deixar de falar nas prendas de Natal. Em 2022, devido ao aumento dos preços, um estudo realizado por uma empresa sueca em 17 países, onde Portugal estava incluído, revelou que que eram os portugueses os que estavam mais “sensíveis ao aumento geral dos preços” e aqueles que queriam fazer menos gastos na época Natalícia, optando por presentes “úteis” ou mais baratos e definindo um orçamento para as compras. De acordo com o estudo, 68% dos portugueses admitiram reduzir as despesas de Natal em produtos não essenciais e 51% disse ir comprar menos coisas do que é habitual.
Para que possas também tu reduzir a tua pegada natalícia, deixamos-te algumas dicas para presentes ecológicos, sustentáveis e conscientes que podes oferecer.
#1 Experiências
A oferta de experiências é sempre uma opção e há uma enorme oferta quanto ao que pode ser oferecido. Um fim de semana fora, uma sessão de um desporto radical, bilhetes (concerto, teatro, eventos desportivos), ou uma aula prática de uma atividade que o teu amigo ou familiar goste. Certamente será uma experiência que mais tarde irão recordar e partilhar contigo.
#2 Garrafas reutilizáveis
É um presente útil e que combate o desperdício de plástico. Há garrafas de várias cores, feitios materiais e também com funcionalidades diferentes. Podes escolher entre uma garrafa reutilizável normal ou térmica, que ajude na conservação do calor ou da frescura e é adaptável a qualquer época do ano.
#3 Leitor de ebooks
Podes levar a tua biblioteca na tua mochila para onde quer que vás. Os ebooks são amigos do ambiente e ajudam a reduzir a pegada ecológica, pois não consomem papel e não utilizam tintas tóxicas. E, por vezes, as versões digitais dos livros conseguem ser mais baratas que as versões em papel.
#4 Um presente DIY (Do It Yourself)
Existe sempre a opção de dares algo feito por ti. Se és uma pessoa criativa e que gosta de desafios, aventura-te e procura fazer algo que sabes que a outra pessoa irá gostar, levar consigo, recordando que aquele objetivo foi construído com o teu esforço. Podes utilizar objetos reciclados, por exemplo.
#5 Plantas
Todos temos um amigo ou familiar que gosta de cuidar de plantas. Se conheces ou tens um jardineiro no teu círculo mais próximo, pesquisa na internet ou visita floristas na tua zona para saber que presente oferecer. Mas tem cuidado, não ofereças este presente a quem nunca revelou interesse, pois assim a planta bem pode ter os dias contados.
#6 Roupa ou artigos em segunda mão
Podes dar uma nova vida a roupa ou outros artigos a quem alguém já não queira dar uso. Procura online ou em lojas físicas e aí poderás encontrar um presente que alguém sempre quis a um preço mais acessível. Existem lojas especializadas na venda destes produtos, desde roupas, a artigos de tecnologia e livros, com alguns destes negócios já a marcar presença nas redes sociais.