Ainda não eram 9:00h e já começavam a chegar inscritos. Sobretudo estudantes de ensino superior, os mais madrugadores foram em busca de um lugar perto dos oradores, pois o assunto era sério - ou não estivéssemos ali todos para falar do acesso ao 1º emprego nos dias de hoje.
Moderado por Rui Marques, Director da FORUM ESTUDANTE, a sessão de abertura começou com a intervenção de Rosário Gamboa, presidente do Instituto Politécnico do Porto (IPP), lembrando que ainda bem há pouco tempo, em 2007, havia em Portugal 7 mil licenciados de longa duração. Sendo uma instituição de ensino superior, "o IPP tem uma preocupação acrescida com a temática do desemprego, mas felizmente os seus cursos estão ainda protegidos" - segundo os dados do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI). Rosário Gamboa recordou aos presentes que por alturas do 25 de Abril de 1974 "éramos um país com 40% de analfabetos" e que, hoje em dia, "a formação e a qualificação são determinantes para a batalha do conhecimento". O alerta da primeira oradora foi para a realização de formação adequada - evitando excesso de vagas em cursos com empregabilidade baixa e uma falta de vagas nas licenciaturas com saída. "Falta uma politica de esclarecimento para a formação com futuro", disse a presidente do IPP.
Emídio Gomes, Pró-Reitor da Universidade do Porto (UP) para as áreas da Inovação e Empreendedorismo começou a sua intervenção de maneira provocante, afirmando sem qualquer margem para dúvida que "os alunos têm de ser melhores que os professores". Atendendo aos seus 27 anos de percurso profissional, Emídio Gomes acredita que "as mudanças das últimas décadas têm sido, maioritariamente, positivas. No entanto, esta nova geração está exposta a uma agressividade e competitividade muito maiores. São anos difíceis e cheios de desafios". O Pró-Reitor admitiu ainda que a grande oportunidade dos mais novos está nas Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação e que "hoje o que não faltam são instrumentos e formação empresarial. O que se passa é que tenho verificado um decréscimo de qualidade nas propostas e ideias apresentadas. Vejo jovens que não querem criar um negócio, antes querem é ganhar concursos", acrescentou. Emídio Gomes referiu ainda que o eixo de universidades Aveiro-Porto-Braga, juntamente com os politécnicos de Viana do Castelo-Porto-e Bragança têm uma oferta académica bastante aceitável. "A formação que vocês recebem, em média, é melhor do que aquela que eu recebi", concluiu.
A representar a Ray Human Capital, empresa parceira de referência em Portugal na área de Recursos Humanos, esteve Marco Gomes. "Vivemos numa era em que o capital intelectual faz a diferença e em que a criação de riqueza vai depender de nós. (...) A criação de emprego não está fácil. A chave está na diferenciação", referiu.
A voz dos alunos foi encarnada por José Miguel Santos, membro do Board Of European Students Of Technology (BEST Porto). "A temática do 1º emprego é a nossa maior preocupação enquanto estudantes". O que acontece, acrescentou ainda José Miguel Santos, é que existe ainda "um desconhecimento das empresas recrutadoras e uma falta de formação em passos-chave, como sendo a elaboração de um CV e o comportamento a ter numa entrevista de emprego".
O painel "O desafio do acesso ao primeiro emprego - uma perspectiva global" foi liderado por Mário Caldeira Dias, presidente do Observatório de Emprego e Formação Profissional (OEFP), que começou por dizer às centenas de olhos arregalados que tinha à sua frente: "Não trago nenhuma receita para arranjarem emprego, porque acredito que a esperança deve estar no realismo". Enriquecida com inúmeros gráficos e tabelas, a intervenção de Mário Cadeira Dias deixou no ar alguns dados a ter em conta na hora de embarcar no mercado de trabalho, tais como o facto da Taxa de Desemprego ser maior na mulheres jovens (entre os 15 e os 24 anos) do que nos homens. Em tempos de crise, também se observou que o desemprego atinge mais os homens, o que significa, explicou o presidente do OEFP, que "as mulheres claramente subsistem melhor à crise". O desemprego também afecta mais as pessoas mais qualificadas e as que, por outro lado, não possuem qualificação alguma. Por fim, sabe-se - e os dados comprovam isso mesmo - que a duração do desemprego é um factor determinante para encontra um emprego/ novo emprego - estar no desemprego há um mês não igual a estar desempregado há um ano. A mensagem de alento é que os jovens estão em vantagem em relação aos mais velhos, sobretudo se tiverem uma formação. "Os licenciados auferem, em média, uma remuneração maior e estão menos tempo à espera para integrar o mercado laboral".
O painel da manhã mais aguardado pela assistência foi "O que procuram as empregas", onde algumas das maiores empresas portuguesas enunciaram os atributos que procuram nos seus candidatos na hora do recrutamento. O primeiro a tomar a palavra foi Victor Ferreira, da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que deu a conhecer aos presentes os estágios intensivos apanágio da Caixa - e que passam obrigatoriamente pela área comercial. "esta área permite fazer um desenvolvimento pessoal e profissional muito interessante. Eu próprio já fui director da área comercial dos balcões de Lisboa... E temos de pensar que é através da área comercial que entra o dinheiro", referiu Victor Ferreira. A tipologa dos estágios existentes na Caixa Geral de Depósitos passa pelas Academias de Verão (estágios de 6 semanas remuneradas durante os meses de Verão); os estágios curriculares (estágios normalmente obrigatórios, com duração de 3 meses e em articulação com as instituições de ensino); e os estágios profissionalizantes (estágios de 6 meses que valorizam quem tenha feito voluntariado, quem fale diferentes línguas, quem tenha feito ERASMUS, por exemplo... Esta experiência de estágio na Caixa Geral de Depósitos (que conta com 5 milhões de clientes) pode garantir um lugar no banco, como referiu Victor Ferreira. "90% dos estagiários que concluem com sucesso este tipo de estágios têm um contracto de trabalho de um ano à frente, até porque não os queremos deixar fugir para a concorrência".
João Brás falou em nome da SONAE e recordou aos seus potenciais candidatos que "o 1º emprego é sempre uma aprendizagem" e que "as empresas, mais do que a academia, valorizam as competências". À semelhança do que foi dito na intervenção anterior, João Brás salientou a importância da vertente comercial dentro das áreas de actuação da SONAE, já que "o cliente é a razão da nossa existência e a área comercial é fundamental para desenvolver a capacidade de argumentação, comunicação... Entre outras". Em suma, o que procura a SONAE? "Procuramos pessoas com experiência - se não for profissional, que seja em ERASMUS, Desporto Federado ou noutros interesses que fortaleçam o currículo. Procuramos pessoas que assumam compromissos, que saibam trabalhar em equipa e que tenham humildade para aprender. É valorizada a criatividade e a singularidade". Sobre esta última característica, João Brás recomendou a visualização do seguinte vídeo de Steve Jobs:
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Hugo Faria falou em nome da GALP Energia. A tónica desta intervenção foi o realismo. "Não se iludam!", "Tenham confiança em vocês!" e "claro que todas as empresas procuram os melhores" foram algumas das frases de abertura. Foi ainda focado o programa Trainees - programa de 'caça' talentos da GALP. O processo de recrutamento para este programa centra-se na avaliação do potencial e tem por base principal os perfis associados à Gestão, Economia e Engenharia (nomeadamente, Engenharia Química; Mecânica; Electromecânica; Electrónica; Engenharia e Gestão Industrial), distribuídos por todas as áreas da empresa, cobrindo necessidades reais, correspondendo a funções com mais-valia para empresa e de responsabilidade reconhecida.
A representar a EDP, estiveram Celestina Pinheiro e Ana Pedrosa. O tempo de antena começou com um vídeo institucional de apresentação da empresa, que visou dar a conhecer aos presentes o leque de actividades desenvolvidas pela EDP. Para os que quiserem tentar a sorte e tentar uma experiência profissional na empresa, Ana Pedrosa deixou um conselho: "sempre que desejarem, podem fazer candidaturas espontâneas no site da EDP, secção de Recursos Humanos. Estão também disponíveis as vagas e as respectivas funções a concurso no momento da pesquisa".
Depois de um reconfortante almoço, foi tempo para os painéis da tarde. O primeiro deu pelo nome de "Que futuro para o Emprego? Que empregos para o futuro?" e teve como oradores António Figueiredo, da Quaternaire, e Sofia Veiga do Serviço de Relações Externas e Integração Académica (SEREIA) da Faculdade de Economia do Porto (FEP).
António Figueiredo começou por lembrar que ninguém escolhe quando quer entrar no mercado de trabalho e que o sucesso nessa missão depende de uma palavra: proactividade - "mas tanto proactividade por parte dos candidatos, como da parte das organizações que oferecem as qualificações." Sofia Veiga, por seu turno, falou dos SEREIA e dos objectivos a que se propõe: reforçar a relação com instituições empresariais, sociais, políticas e económicas; estabelecer parcerias e protocolos com instituições/empresas; reforçar o sentido de pertença, integração profissional e ligação à FEP dos diplomados de várias gerações; e promover nos estudantes o desenvolvimento de competências pessoais e sociais exigidas aos profissionais de excelência, entre outros. A FEP tem ainda à disposição dos seus alunos e ex-alunos uma bolsa de emprego online. No entanto, Sofia Veiga alertou ainda para o facto de "uma licenciatura, um mestrado ou um doutoramento não garantirem, por si só, um emprego".
No painel "O que fazem as instituições de ensino superior para apoiar o acesso ao primeiro emprego", Fernanda Correia foi a primeira a tomar a palavra. A representante da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) falou do Serviço de Integração Profissional da universidade e do apoio que este presta a gestão das carreiras de estudantes e alumni. "fazemos exercícios de role playing, simulação de entrevistas de trabalho, ajudamos na elaboração de CV, organizamos debates sobre saídas profissionais com casos de sucesso de ex-alunos da FEP e orientamos os interessados na mobilidade internacional".
Maria Lopes Cardoso, da Universidade Católica do Porto, disse aos alunos presentes que o Centro de Serviços Partilhados ajuda os estudantes "desde que entram para a universidade, durante a transição para o mercado de trabalho e depois, no prosseguimento da carreira. O relacionamento com os antigos alunos ajuda a estarmos atentos ao que se passa no mercado". Já Elisabete Rodrigues, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), deu a conhecer um pouco da sua experiência no Gabinete de Imagem e Relações com o Exterior (GIRE). o GIRE desenvolve e apoia diversas iniciativas no sentido de promover a Faculdade e as suas actividades, nas quais de inclui "produzir e gerir a Bolsa de Emprego da FCUP e apoiar os alunos no processo de entrada no mercado de trabalho."
Em nome do que se faz no ISCET, Cristiana Oliveira apresentou o Gabinete de Estágios e Saídas Profissionais (GESPISCET) - a estrutura interna responsável pela organização e acompanhamento dos alunos em estágio e pela divulgação e promoção dos alunos e diplomados do ISCET junto do mercado de trabalho. O Gabinete tem como principais funções a organização e coordenação da feira de empresas do ISCET; participação na feira do empreendedor; organização e coordenação de acções de formação bem como workshops; organização de seminários / jantares-debate com oradores convidados das áreas profissionais relevantes; organização de visitas de estudo em áreas relevantes dos cursos, promovendo contactos dos alunos com o meio empresarial; análise sistemática do comportamento do mercado de emprego face à procura das áreas dos Cursos do ISCET; aconselhamento e planeamento de carreiras (elaboração de CV, cartas e preparação para entrevistas); selecção e recrutamento de estagiários; e manutenção da bolsa de emprego. "O GESP não quis ficar atrás das tendências e aderiu ao Facebook, possuindo uma página própria", terminou Cristiana Oliveira.
A última interveniente do painel foi Filipa Heitor, do Gabinete do Estudante do IPP, que disse "usem e abusem das estruturas semelhantes a estas na vossas universidades e politécnicos! Podem usufruir de atendimento em grupo, inclusivamente, caso tenham problemas em ir sozinhos... Podem ficar a saber mais sobre programas de voluntariado, aceder à bolsa de emprego e fazer toda a classe de perguntas".
O momento mais aguardado da tarde foi o workshop sobre construção de CV e entrevista de emprego, a cargo de Marco Gomes da Ray Human Capital. "Passamos um momento difícil, o índice de desemprego é elevado, assim como o índice de competitividade", começou por enquadrar Marco Gomes, passando seguidamente para as informaçãoes mais práticas, como por exemplo onde procurar emprego? "os meios de recrutamento passam pelos anúncios de imprensa; as empresas de trabalho temporário; as candidaturas espontâneas (onde não chega enviar e-mails, há que entregar as coisas em mão, dar-se a conhecer...); as apresentações em instituições académicas e a procura directa em redes sociais como o LinkedIn e o Facebook".
Depois de abordar as várias partes que compõem uma entrevista de emprego - desde a apresentação às despedias, Marco Gomes deu algumas dicas sobre a construção dos CV. "Esqueçam os CV com índice! Isto não é um livro, é uma breve apresentação vossa. Evitem colocar anexos (a não ser que sejam pedidos), capa no CV e vocabulário técnico de difícil percepção. As empresas valorizam actividades extra-curriculares e experiências de mobilidade, tais como ERASMUS, INOVContacto, Leonardo da Vinci...". No final da conferência, muitos eram os blocos de notas cheios de apontamentos e muitos os sorrisos de satisfação por ter usado uma Sexta-feira em prol do futuro... Ficando a saber um pouco mais sobre como proceder na busca quase desesperante por um 1º emprego.
Fotos: Gonçalo Gil (FORUM ESTUDANTE)