Para os fãs de rap, não tem havido outro assunto nas últimas semanas. Drake e Kendrick Lamar, os dois maiores rappers da atualidade (estatuto que já mantêm há alguns anos), estão envolvidos numa disputa de fazer inveja às Guerras Civis d’Os Vingadores. Depois de um polémico verso do Kendrick na faixa Like That, um leak da resposta do Drake tem deixado a internet em alvoroço. E é precisamente por essa faixa, que deverá chegar aos serviços de streaming esta semana, que devemos começar para que possamos perceber todos os contornos do beef mais mediático que o rap conheceu em largos anos.

And that song y'all got did not start the beef with us / This been brewin' in a pot, now I'm heatin' up, rima Drake no segundo verso de Push Ups, aquela que, aparentemente, é a primeira diss track oficial desta batalha. Traduzindo para português, percebemos que não foi o verso na faixa Like That que deu início a esta guerra. O desaguisado entre os dois rappers é já conhecido e falado há alguns anos; o momento do verso do Kendrick foi apenas o que o colocou em ebulição. Então, de onde vem toda esta animosidade? Quando começaram os dois artistas, que já colaboraram inclusivamente nos discos um do outro, a construir esta inimizade entre ambos? Para contexto, temos que viajar um pouco no tempo, até ao princípio da carreira de ambos, e entender os contornos da sua relação.

  



O Drake é um pouco mais velho do que o Kendrick – um ano, mais precisamente – e já era uma pequena celebridade no Canadá fruto da sua participação na série juvenil Degrassi. Era natural que, em 2012, o rapper canadiano fosse uma estrela maior do que o rapper de Compton. Apesar disso, o Kendrick era um dos nomes emergentes que mais burburinho causava na cultura e, apercebendo-se do seu potencial, o Drake levou-o em digressão para abrir os seus concertos e concedeu-lhe até um interlúdio no seu aclamado álbum Take Care. Nesse mesmo ano, sai o Good Kid m.a.a.d City e o paradigma muda para o Kendrick; deixa de ser um nome para o futuro, uma espécie de potencial estrela e passa a sê-lo definitivamente. Este disco é considerado como um dos melhores da década (e de sempre) e catapultou-o para o estrelato. E o Drake esteve presente nesse momento, tendo uma participação na faixa Poetic Justice. A relação entre os dois artistas parecia ser de respeito mútuo e até de entreajuda. Mas, em 2013, tudo mudou.

 


Em 2012, Kendrick Lamar deixa de ser um nome de futuro e passa a ser definitivamente uma estrela com o lançamento do álbum Good Kid m.a.a.d City.


 

 

Na cauda de um ano brilhante, o Kendrick era o rapper do momento e decidiu deixá-lo bem claro para a sua competição. Em Control, faixa deixada de fora do álbum do rapper Big Sean, o rapper da West Coast deixou-nos um dos seus melhores e mais memoráveis versos de sempre. Nele, aclamou-se como o melhor rapper do momento, o rei das duas costas (e nós sabemos que a relação entre a East e a West Coast nem sempre foi fácil…) e, para fechar, diz a toda a concorrência exatamente aquilo que pretendia fazer: aniquilá-los (metaforicamente e em termos de rap, importante frisar). Ora, isto não é incomum no rap, um género musical que é, muitas vezes, referido como sendo um desporto competitivo. A diferença aqui é que o Kendrick decidiu dizer o nome de todos aqueles que via como concorrentes, deixando uma lista de todos os seus contemporâneos que queria destruir. As ondas de choque espalharam-se pela cultura. Os nomes que não foram ditos, talvez sentindo-se desconsiderados, responderam com música. Os nomes que foram ditos pronunciaram-se maioritariamente de forma positiva, entendendo este momento como uma chamada para competir e se elevarem mutuamente. Contudo, um dos nomes mencionados interpretou este verso de forma diferente. Adivinham quem?

 

 

Para o Drake, esta chamada foi um pouco mais pessoal. Rapidamente se multiplicaram entrevistas onde expressou o seu desagrado pela energia trazida pelo Kendrick naquele momento. E, desconhecendo nós aquilo que se passa nos bastidores, as colaborações entre os dois rappers pararam. Ficou uma aura de Paz Romana, uma paz forçada que se sentia que iria, eventualmente, terminar naquilo que temos hoje. A tensão era palpável, mas, à exceção de algumas linhas subliminares por parte de ambos os artistas que serviram para alimentar a especulação e as teorias, nunca tivemos nada de concreto da parte de nenhum dos dois MCs. Até ao álbum colaborativo do Metro Boomin’ e do Future.

Na faixa Like That, e numa colaboração que nem tinha sido anunciada, tivemos o momento que despoletou tudo. Como artista convidado, o Kendrick deixou umas rimas bem diretas a desafiar o Drake e o J. Cole, seus contemporâneos e que, em conjunto, são os três maiores do rap da última década. Nas suas rimas, o MC da Califórnia deixa bem claro que não considera que exista um top 3; existe apenas um número 1, ele próprio. Aquando do seu lançamento, o verso fez a cultura tremer. Para começar, eram as primeiras linhas diretas que este beef a ser cozinhado há anos conhecia. Depois, envolvia um terceiro elemento – o J. Cole – com quem o Kendrick parecia manter uma relação de amizade há anos. O rapper da Carolina do Norte chegou a responder na faixa 7 Minute Drill, mas rapidamente se retirou a si mesmo do conflito e à faixa dos serviços de streaming. Restava aguardar por uma resposta do Drake.

 

 

E ela chegou! Mais ou menos… ainda sem lançamento oficial, Push Ups é um momento de coragem do rapper canadiano. Nesta faixa, deixa jabs bem diretos a todos os seus “inimigos”: Metro Boomin’, Future, Rick Ross e até o J. Cole! Mas, obviamente, o destaque cai sobre as linhas endereçadas ao Kendrick.

A internet já está a tratar de todas as teorias e especulações. Até falsas respostas criadas por inteligência artificial já saíram. Da parte dos dois rappers, porém, silêncio. Falta o lançamento oficial desta diss track do Drake para tornar as hostilidades oficiais. Será também, certamente, desse momento que o Kendrick está à espera para responder. Aguardam-se tempos difíceis para o refrão do refresh… mas tempos incríveis para quem gosta de rap (e de um bocadinho de drama)!