Leonardo Da Vinci pode ter sido “o autor do inacabado”, tal era a sua tendência para abandonar projetos, mas isso só acontecia porque perseguia a perfeição (e não ficava satisfeito nada menos do que isso), porque não ligava a dinheiro e poder (daí não entregar as encomendas de mecenas) e porque se distraia com múltiplos interesses. Queria aprender, descobrir tudo e mais alguma coisa, e não só sobre um campo do saber. Foi pintor, engenheiro, arquiteto, anatomista, matemático, astrónomo, naturalista, em doses iguais e nunca dissociadas. Muitas das coisas que imaginou estavam tão à frente no seu tempo que só ganhariam forma física séculos depois. Era assumidamente vegetariano e homossexual, também na vida pessoal um pioneiro nos costumes. Tudo isto ficamos a saber nas 671 páginas que formam a biografia do “génio mais criativo da História”, assinada por Walter Isaacson e disponível no mercado nacional graças à Porto Editora.

Leo

A obra está profusamente ilustrada com as peças de arte e apontamentos de Leonardo Da Vinci, aqui esmiuçados ao detalhe, sob um olhar técnico mas também contextualizado pela personalidade e história privada do criador. Uma leitura deliciosa, sobretudo para os amantes de História da Arte. A partir de mais de 7200 páginas de anotações, Isaacson retrata com rigor e entusiasmo a vida de Da Vinci e como era o seu método de estudo e trabalho nas mais diferentes áreas. Recorde-se que o autor é especialista em biografias, tendo-se já debruçado sobre ícones mundiais como Steve Jobs, Albert Einstein, Benjamin Franklin e Henry Kissinger.

É inspiradora a curiosidade obsessiva e multifacetada de Da Vinci, a mania deste canhoto de tudo apontar em caderninhos em jeito de diário, as suas questões metafísicas e terrenas anotadas em estranhas listas de “coisas a fazer”, a sua predileção por vestimentas extravagantes cor de rosa ou roxas, a bênção e a maldição que foi ser filho ilegítimo de um notário, as suas amizades em Florença e Milão (para onde se transferiu), a sua “lata” para lidar com os poderosos e influentes, a sua rivalidade com Miguel Ângelo.

O livro será em breve adaptado ao cinema, numa fita tendo como protagonista Leonardo DiCaprio, também produtor do filme. O filme contará com argumento de John Logan, oscarizado por ‘O Aviador’, igualmente com DiCaprio.