Quando, no final de março, Portugal entrou em Estado de Emergência, para fazer face à ameaça da Covid-19, os 64 estudantes da Residência 2 do Politécnico de Beja foram, como tantos outros, apanhados de surpresa. A responsável por esta residência, Gennifer Cá, relata à FORUM, por telefone, algumas das dificuldades vividas. “A maioria dos estudantes que aqui vive é estrangeira, há muita gente que não tem para onde ir, que está longe da família”, conta: “O Instituto Politécnico de Beja abraçou-nos e protegeu-nos. Compreendeu as nossas dificuldades e deu-nos tudo o que precisávamos”.

Ainda antes de Portugal entrar em Estado de Emergência, já o Politécnico de Beja preparava o programa “Todos em Casa” – um conjunto de 20 medidas destinadas a apoiar os seus estudantes. O programa contempla medidas que facilitam a prática do distanciamento social (como a entrega de compras em casa ou o transporte de estudantes em veículos do IPBeja), a organização interna das residências (com a criação de escalas e de espaços de isolamento, por exemplo) e o reforço do acompanhamento dos alunos (prestando assistência presencial nos casos de necessidade). “Este é um programa único no país”, realça o administrador do IPBeja, Paulo Cavaco: “É um programa destinado a proteger o bem mais precioso deste instituto – os seus estudantes”.

 


“O Instituto Politécnico de Beja abraçou-nos e protegeu-nos. Compreendeu as nossas dificuldades e deu-nos tudo o que precisávamos”.
Gennifer Cá, estudante


 

 

Para outra das estudantes do IPBeja, Karina Santos Silvério, o apoio da escola “foi fundamental”. Representante da Residência da “Casa do Estudante”, Karina conta que esta estrutura é habitada sobretudo por estudantes Erasmus que se encontravam afastados da sua família e amigos. O programa do IPBeja auxiliou, sobretudo, na dimensão de “organização e controlo”, acrescenta: “Foi uma situação nova para toda a gente e estávamos sem norte, no início. O projeto ajudou-nos a organizar e a encontrar um método”. O sucesso do programa levou a que os estudantes do IPBeja decidissem prolongar o projeto durante mais um mês, mesmo depois da saída do estado de emergência.

 

Crescer, juntos

A vida em isolamento não é novidade para a grande maioria dos portugueses. Mas como é passar por esta experiência, numa residência com 64 estudantes? Gennifer Cá conta que o impacto foi profundo: “Estamos acostumados a uma vida movimentada, entre a escola e a casa. A partir do momento que ficámos fechados, percebemos melhor o próximo e compreendemos as suas dificuldades – acabámos por criar um espírito de solidariedade”.

 

IPBeja dinamiza também o programa "Ser Humano" que auxilia pessoa necessitadas no concelho de Beja

 

Na sua residência, foi criada uma despensa comunitária onde eram colocados géneros e bens para os estudantes necessitados. São detalhes como estes que deixam Paulo Cavaco “orgulhoso e satisfeito”: “Foram os estudantes que participaram no programa e o valorizaram. O programa gerou linhas próprias de responsabilidade social e solidariedade que nos orgulham imenso”. É por essa razão que acrescenta: “Os estudantes estão de parabéns”.

Segundo o administrador, este programa surge no seguimento daquele que é um pilar estratégico da ação do IPBeja. “Procuramos afirmar o Politécnico de Beja através do valor e importância das pessoas e esta proximidade reflete-se na valorização de cada estudante”, conta, antes de reforçar: “Conhecemos os estudantes pelo nome”.

 


“Procuramos afirmar o Politécnico de Beja através do valor e importância das pessoas e esta proximidade reflete-se na valorização de cada estudante. Aqui, conhecemos os estudantes pelo nome”.
Paulo Cavaco, administrador


 

Esta é uma estratégia com resultados, revela Paulo Cavaco, recordando que, neste último ano letivo, foram recebidas 4000 candidaturas para as 250 vagas destinadas a estudantes internacionais. “Esta preocupação tem feito a diferença. Em seis anos, passámos de duas residências com 70% de ocupação para seis residências totalmente ocupadas”, conta.

A cidade de Beja, pela sua dimensão e características, desempenha também, na opinião do administrador, um papel importante – “é uma cidade mais calma, extremamente segura, com um custo de vida mais acessível”. Com o apoio do IPBeja, os estudantes encontram um espaço onde podem contar com apoio e respeito pela sua identidade, conclui: “Noutras cidades e meios, os estudantes poderão ser apenas um número. Aqui, serão apenas eles próprios”.

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