Representantes do Governo, das instituições de Ensino Superior, dos estudantes, dos empregadores, e de outras entidades ligadas ao mundo do emprego e da juventude estiveram ontem reunidos, durante o webinar “Empregabilidade dos diplomados do Ensino Superior: Desafios em tempos de pós-pandemia”, que contou com a participação de cerca de 150 pessoas.

Como o nome indica, este evento online organizado pelo Consórcio Maior Empregabilidade teve como objetivo pensar as consequências do impacto social e económico da pandemia da Covid-19, especificamente no que diz respeito às dinâmicas de emprego dos jovens que terminam a sua formação superior e procuram assegurar a transição para o mercado de trabalho.

Durante o primeiro painel do webinar,o secretário de Estado Adjunto, do Trabalho e da Formação Profissional, Miguel Cabrita, destacou como, nos períodos de crise económica e social, se torna necessário um olhar específico para os jovens que procuram entrar no mercado de trabalho.

 

 

“Muitas vezes pensamos nos fenómenos do desemprego associados às crises como uma questão que afeta os que perderam o emprego – essa é naturalmente uma preocupação relevante e sensível. Mas, encontramos também a retração [em número e em qualidade] das entradas no mercado de trabalho”, destacou o secretário de Estado, acrescentando: “Esta circunstância faz com que qualquer período de crise seja duplamente penalizador para os jovens”.

A mesma ideia foi secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Sobrinho Teixeira. Sublinhando que “ter uma qualificação é ter uma melhor preparação para o futuro”, o membro do Governo recordou como “durante os períodos de maior crise económica”, essa ideia “nem sempre está patente”, esbatendo-se a perceção da sua importância para a empregabilidade.

 


 “Não podemos permitir que, devido a uma situação de crise, se crie a ideia simplista de que o Ensino Superior não compensa”
Miguel Cabrita, secretário de Estado Adjunto, do Trabalho e da Formação Profissional




Os números, contudo, reforçou, mostram a importância crucial da qualificação para o emprego. O desemprego jovem desceu de cerca de 33%, em 2011, para os atuais 22% – um número que, destacou João Sobrinho Teixeira, é já influenciado pelos efeitos económicos e sociais da pandemia. Os dados, reforçou, mostram “como vale a pena, no que diz respeito à empregabilidade, apostar na qualificação”.

Reforçando este ponto, Miguel Cabrita salientou “a mensagem que temos de passar sempre”, em todos os períodos – o investimento da formação e da qualificação, em particular o investimento em habilitações do Ensino Superior, é muito importante. “Não podemos permitir que, devido a uma situação de crise, se crie a ideia simplista de que o Ensino Superior não compensa”, sublinhou, realçando ainda a importância de apostar, nos momentos de crise, em “políticas públicas contracíclicas” que evitem a lógica de “deixar o mercado funcionar sem grandes entraves”.

 

O olhar das instituições de Ensino Superior

O painel seguinte reuniu dirigentes de várias entidades que representam as instituições de Ensino Superior: Paulo Jorge Ferreira (vice-presidente do Conselho de Reitores Universidades Portuguesas), Pedro Dominguinhos (presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos) e Miguel Copetto (diretor-executivo da Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado).

 

 

Durante três dias, pensou-se o trabalho dos gabinetes de promoção da empregabilidade do ensino superior


Terminou hoje a International Meeting & Conference: Career and Employability Offices, uma conferência integralmente virtual coorganizada pela Forum Estudante, pelo Consórcio Maior Empregabilidade (CME) e pela Universidade do Porto. O evento permitiu abordar um vasto conjunto de questões relacionadas com a promoção da empregabilidade dos diplomados do ensino superior.


 

 

O dirigente do CRUP, Paulo Jorge Ferreira, começou por destacar um dos desafios que é apresentado, hoje, às instituições de ensino superior, no que diz respeito ao ajuste das qualificações à realidade envolvente – “complementar o modelo formativo clássico para a realidade dinâmica de hoje”: “Pensamos ainda numa atitude face ao desemprego que é reativa, quando deveríamos olhar com uma atitude preventiva, para reagir mais depressa e antecipar a realidade”.

Por outro lado, acrescentou, desafios como a emergência climática ou a emergência de novas profissões deve levar a aposta numa lógica de qualificação interdisciplinar, transversal e ao longo da vida, uma estratégia a que já respondem, atualmente, as ferramentas de upskilling ou reskilling que incluem estratégias de microcredenciação [realização de unidades curriculares suplementares] e são hoje uma realidade nas universidades portuguesas.

Em representação dos institutos superiores politécnicos portugueses, o presidente do CCISP, Pedro Dominguinhos, destacou dois desafios que se relacionam – “por um lado, a sociedade exige-nos modelos de ensino-aprendizagem cada vez mais costumizados. Mas, ao mesmo tempo, [exige modelos] cada vez mais rápidos”. Este contexto, destacou, torna necessária uma “maior flexibilidade” nos currículos, bem como uma “maior diversificação” no que diz respeito às ofertas formativas.


 


“Pensamos ainda numa atitude face ao desemprego que é reativa, quando deveríamos olhar com uma atitude preventiva, para reagir mais depressa e antecipar a realidade”
Paulo Jorge Ferreira, vice-presidente do CRUP


 

 
O também presidente do Instituto Politécnico de Setúbal referiu uma iniciativa desta instituição de ensino superior como exemplo dessa diversificação e flexibilidade: o projeto criação de uma universidade europeia. “Estes são projetos cocriados a partir do território e do envolvimento da sociedade civil, para conseguir dar respostas às suas necessidades”, explicou, acrescentando a relevância de criar pontes com as empresas e entidades do mundo do trabalho locais.

A fechar o painel, Miguel Copetto, destacou a importância de pensar o conceito de “educação para o risco”. Para o diretor-executivo do APESP, “a essência da Educação deve ser virada para a liberdade e responsabilidade”, evitando o que apelidou de “atitude paternalista do Estado” enquanto educador, que “tem como consequência fomentar um espírito de dependência”.

 

O olhar dos estudantes

Quando falamos de emprego jovem, qual a visão dos estudantes? De acordo com o presidente da Federação nacional das Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico (FNAAESP), Tiago Diniz, esta é uma temática que é trabalhada “dia a dia” na FNAEESP, sendo que a pandemia veio acelerar o ritmo de trabalho sobre o tema.

“Quando a evolução [do mercado de trabalho] começa a ser muito rápida, um licenciado de hoje poderá estar desatualizado daqui a um mês na sua profissão”, reforçou, explicando que a pandemia poderá ser “uma oportunidade” ao “introduzir uma preocupação com a inovação pedagógica”.

 

 

 

 

 

 

As práticas pedagógicas, destacou Tiago Diniz, têm muita influência neste tema, destacando a importância de “atualizar pedagogicamente o corpo docente”, bem como “contabilizar o que os estudantes aprendem fora da sua formação académica”, através de processos formais que transformem outros tipos de atividades em créditos.

O segundo painel incluiu ainda os contributos de representantes do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) e da Adecco Portugal, onde foram destacados temas como o reforço da proximidade entre empresas e instituições de ensino superior, numa lógica de melhor articulação da oferta formativa com as necessidades do mercado de trabalho. O papel da economia social, bem como dos programas de empreendedorismo e de criação do próprio emprego foram outros dos temas em destaque.

Durante a sessão de encerramento, o vice-presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), António Leite, começou por salientar a importância de que todos os intervenientes neste evento possam “construir uma sociedade que cumpra os artigos 23 e 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem” – artigos que garantem “o direito à Educação e direito ao Trabalho”. “Temos de pensar que a empregabilidade é uma tarefa de todos e de todas”, reforçou António Leite, antes de destacar a criação de emprego de qualidade como um objetivo prioritário, tendo em conta as atribuições do Estado e o seu compromisso com os cidadãos.