“800 219 090”. Este foi o número repetido várias vezes, na primeira sessão do segundo dia do CIS Digital Camp. “Este é o contacto da Linha Internet Segura”, explicou Maria João Dias, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), sublinhando que esta linha serve para a denúncia de casos de violência online como ciberbullying, sextortion, entre outros.
“1 em cada 6 jovens é vítima de ciberbullying, a uma escala global”, sublinhou Maria João Dias, sendo que, a nível mundial, há 1,3 mil milhões de vítimas. A apresentação da técnica da APAV focou várias formas de violência online – discurso de ódio, divulgação de informações pessoais ou íntimas, exclusão propositada e stalking ou perseguição.
Para além de partilhar alguns dos sinais de alerta, a sessão focou ainda as formas como os estudantes podem ajudar colegas que enfrentem estes casos. Ouvir sem julgar, ativar medidas de proteção das redes sociais, guardar provas, fazer a denúncia e pedir ajuda à Linha Internet Segura foram alguns dos passos recomendados.
Seguiu-se uma discussão sobre alguns “Mitos e Verdades” sobre violência online, relacionado com afirmações como “o cyberbullying é crime”, “o bullying é pior que o cyberbullying” ou “o cyberbullying pode acontecer com contas e perfis privados”.
TESTEMUNHO
«Saímos daqui sabendo como nos proteger»
Gonçalo Quaresma, 17 anos, Escola Secundária do Pinhal Novo
Penso que está ser uma academia com muita informação relevante, que penso que poderia ter mais atividades interativas. Durante o ano letivo, utilizo ferramentas de IA, mas a verdade é que, se pensarmos bem, graças às redes sociais, estamos sempre em contacto com estas tecnologias. É bom sabermos mais sobre Inteligência Artificial, por ser algo atual e que tem vários riscos associados. Desta forma, saímos daqui sabendo como nos proteger, bem como aos nossos amigos e familiares. Penso que vou levar daqui amizades e muitas coisas que não sabia sobre IA. Algumas delas foram surpreendentes e, por isso, sinto que estou melhor preparado.
Navega(s) em Segurança?
A manhã continuou com uma sessão dinamizada por Gabriel Gomes, do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), que começou por partilhar alguns dos projetos desta entidade abertos à participação de jovens, com foco no voluntariado em áreas como serviço social, natureza e florestas, associativismo ou proteção animal, por exemplo. Gabriel Gomes deixou ainda o convite aos estudantes de submeter “novas ideias” para projetos, partilhando algumas das linhas de apoio ou financiamento.
O foco principal da comunicação do IPDJ foi o projeto “Navega(s) em Segurança?” – a iniciativa de voluntariado que, de acordo com o site do IPDJ, “envolve jovens para que dinamizem sessões de informação e divulgação sobre cibersegurança” (ver caixa), nomeadamente o ciberbullying, o discurso de ódio, jogos online, relacionamentos online ou desinformação. “Se tiverem entre 16 e 30 anos podem ser os responsáveis por conduzir estas sessões”, explicou Gabriel Gomes.
As ameaças específicas que nascem das tecnologias de Inteligência Artificial também foram destacadas, como as deepfakes. “Num mundo que continua a evoluir, é importante serem sensíveis a estas questões, aprofundarem conhecimentos e serem mensageiros”, destacou Gabriel Gomes.
O Navega(s) em Segurança
O Programa de voluntariado "Navega(s) em segurança?", do Instituto Português da Juventude (IPDJ), visa promover o desenvolvimento da utilização responsável e segura da Internet, através da realização de sessões informativas e de ações de sensibilização destinadas a crianças, jovens, pais/educadores e cidadãos em geral. O programa destina-se a jovens com idades compreendidas entre os 16 e os 30 anos, que tenham conhecimento sobre o uso das novas tecnologias da informação ligadas à internet, boa capacidade de comunicação e facilidade de relacionamento interpessoal.
Passos para a segurança online
"Venho-vos falar de cidadania digital ligada à área dos jogos e da inteligência artificial". A frase de Pedro Barata, da Microsoft, serviu para introduzir uma sessão dedicada aos riscos online e às questões ligadas à privacidade. "Devemos pensar na nossa pegada digital, nos riscos de estar online, bem-estar online e a transformação digital", reforçou.
Tendo em conta que "a nossa vida é hoje totalmente ligada a dispositivos online", nomeadamente através da integração permitida por smartphones, "cada vez mais estamos a caminhar para uma vida digital", pelo que é importante os riscos associados a vários comportamentos. "Através do telemóvel, terceiros podem ter acesso à vossa vida e até utilizar a vossa identidade", reforçou. A sessão incluiu um momento de criação de palavras-passe, explorando as melhores práticas.
Uma passowrd forte e única, um desbloqueio seguro do dispositivo, o uso de múltiplos factores de autenticação, manter o software atualizado e identificar endereços legítimos foram alguns dos passos partilhados pelo especialista, que detalhou os passos e regras para cumprir cada uma destas boas-práticas.
A IA precisa de ti?
Num tempo em que as utilizações da IA se multiplicam, há um primeiro passo importante a ter em conta, sublinhou Carlos Antunes, do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS). "A primeira decisão a tomar no que diz respeito à utilizar Inteligência Artificial", explicou, é "em que momentos queremos ou não utilizar a Inteligência Artificial". A questão que devemos colocar-nos, sublinhou Carlos Antunes, é: "Somos nos que controlamos a IA ou é ela que nos controla a nós?". Para evitar este controlo, explicou, necessitamos de ser "utilizadores conscientes" que recorrem a estas ferramentas para necessidades específicas.
A inserção de publicidade nas redes sociais, em conjunto com as tecnologias de inteligência artificial, acrescentou, complexifica a nossa relação com estes espaços. "A Inteligência Artificial lê as vossas ações e está a alimentar-vos sistematicamente de conteúdo de que dão a entender que gostam, o que faz com que sejam passivamente controlados", explicou.
A sessão incluiu ainda uma dinâmica prática que levou os estudantes a debater questões sobre o potencial, a aplicação e o impacto das tecnologias de IA na sociedade. A questão em debate foi "A IA dá poder aos humanos vs Os humanos estão a perder o poder com a IA". Depois, os participantes trabalharam em grupo, apresentando algumas conclusões sobre esta temática.
O CIS Digital Camp continua amanhã com um dia dedicado à criação de uma campanha de sensibilização que maximize o impacto das mensagens apreendidas. Acompanha através das redes sociais da Forum Estudante!