O percurso de Jimmie Durham - que recebeu, este ano, o Leão de Ouro na 58.ª Bienal de Veneza - cruza a poesia, o ativismo político e a prática artística numa enorme coerência que tem dado novos sentidos à relação entre política e poética. 'Acha que Minto?' retoma outra exposição — História Concisa de Portugal — apresentada pelo artista, em 1995, na Galeria Módulo, a primeira presença do seu trabalho em Portugal que veio a ser relevante no seu percurso.
Inspiradas no livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago (que Durham considera um livro de referência para si e para a história do Século XX), as obras incluem citações do texto que, datilografadas ou manuscritas, integram individualmente cada uma das peças, não se constituindo, no entanto, como metáforas ou ilustrações. Construídas a partir de objetos encontrados pelas ruas da cidade de Lisboa (troncos e pedaços de madeira, pedras e peças variadas de metal, plástico, cerâmica ou tecido), as peças parecem definir um universo precário e resgatado a um tempo indefinido. A relação paradoxal entre realidade e ficção, essencial na estrutura do livro de Saramago que narra o último ano da vida do mais famoso heterónimo de Fernando Pessoa, possui aqui um correlato expresso no título da exposição 'Acha que Minto?', ele próprio uma citação do mesmo livro. No seu conjunto, estas obras retomam as temáticas que o artista tem vindo a desenvolver: a quebra, o estilhaçar do mundo e, simultaneamente, o seu encantamento assente no acidente, e as políticas de representação identitária. Jimmie Durham (E.U.A., 1940) iniciou o seu percurso como ativista político, poeta e performer muito jovem, no início da década de 1960.
Esta exposição é o segundo momento do ciclo Reação em Cadeia, uma colaboração entre a Fidelidade Arte e a Culturgest, que propõe aos artistas participantes o convite ao artista que lhes sucede em ambos os espaços. O ciclo implica sempre uma estreita adequação do projeto às galerias, em diferentes declinações em Lisboa e no Porto. Jimmie Durham foi o artista proposto por Ângela Ferreira (Maputo, 1958), que o antecedeu, sendo Elisa Strinna (Pádua, 1982) a artista que o sucederá.