Assim chegaram à Biblioteca Municipal de Condeixa, os participantes da I Love We foram desafiados em dose tripla. Nesta localidade, estavam preparadas três atividades diferentes, relacionadas com várias áreas incluídas na oferta formativa da Escola Superior de Educação de Coimbra. Um a um, os desafios nas áreas de Gerontologia Social, Comunicação Social e Língua Gestual Portuguesa (LGP) foram apresentados.

O grupo de estudantes que escolheu trabalhar no âmbito da LGP tinha uma missão clara: aprender a comunicar em Língua Gestual Portuguesa parte de uma das músicas do espetáculo de encerramento. Aos poucos, os participantes aprenderam os gestos que comunicam o refrão da música “Paixão”, dos HMB.

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Antes, a diretora da licenciatura em Língua Gestual Portuguesa, Joana Sousa, explicou a forma como este curso, criado em 2005, prepara os seus estudantes para ser intérpretes ou professores de LGP. O contexto que rodeia esta formação, acrescentou, alterou-se recentemente, com a “designação do trabalho destes profissionais enquanto professores e não formadores”. “Ainda que exista há milhares de anos, o reconhecimento da Língua Gestual Portuguesa é recente”, reforçou.

O trabalho de um intérprete é normalmente associado “ao pequeno quadrado” que é visível no canto inferior de uma qualquer televisão. Contudo, destacou Joana Sousa, a sua atividade ultprassa em muito esse espaço: “Num dia normal, um profissional desta área por interpretar um programa de televisão de manhã, uma aula durante a tarde e uma peça de teatro à noite, por exemplo”. “E, no fim de semana, ainda pode interpretar um casamento ou um funeral”, acrescentou, entre sorrisos.

 

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A maioria dos estudantes desta licenciatura (que permitirá, em breve, a continuação para segundo ciclo) “nunca tinha contactado com a LGP e não conhecia surdos”. Durante o curso, desenvolve-se o que apelidou de “fascínio pela língua” que é complexa e diferente de país para país. “O gesto que significa 'lâmpada', em Portugal, por exemplo, traduz-se como 'coco', no Pacífico Sul”, ilustrou.

 

Comunicação emergente

Outra das atividades da manhã colocou um grupo de estudantes de câmaras em punho, filmando e fotografando uma visita à Casa Museu Fernando Namora (CMFN). Durante o percurso, foi possível conhecer a vida e obra deste escritor português cuja a importância é percetível na presente exposição temporária – um conjunto de dedicatórias a Fernando Namora oferecidas por escritores nacionais e internacionais. Dento do grupo destes ilustres contributos, José Saramago, por exemplo, agradece o impulso que lhe foi oferecido pelo escritor, no início de carreira, destacou a técnica da CMFN, Isabel Freitas.

A Casa Museu Fernando Namora abriu um ano depois da morte do autor, em 1990, tendo celebrado, no passado domingo, o seu 29.º aniversário. 2019 marca também os 100 anos sobre o nascimento do autor natural de Condeixa. No tota, Fernando Namora publicou 32 obras, “uma obra considerável, tendo em conta a sua “vida relativamente reduzida”, realçou Isabel Freitas.

 

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O desafio colocado aos estudantes passou pela elaboração de dois trabalhos diferentes, criados a partir desta visita: para além de uma notícia, incluiu também uma peça multimédia. Esta dualidade reflete uma das principais características da licenciatura em Comunicação Social da ESEC, conforme destacou a diretora do curso, Carla Patrão: “Para além de uma vertente ligada aos média tradicionais [rádio, televisão e imprensa], o curso inclui uma componente de novos média, com a criação de conteúdos multimédia para novas plataformas”.

Desta forma, para além da saída profissional de jornalista, o curso de Comunicação Social da ESEC permite também o acesso “a profissões emergentes” e a áreas como realização ou produção. A componente prática dos trabalhos foi também salientada por Carla Patrão, destacando o envolvimento dos alunos na ESEC TV e a realização de um estágio, no final dos três meses de licenciatura.

 

Prevenir é o melhor remédio

“A partir do momento em que nascemos, envelhecemos”, realçou, a certa altura, a diretora do curso de Gerontologia Social, Sofia Silva. A frase pode parecer uma constatação óbvia, mas serve para ilustrar o facto de “normalmente, apenas se pensar no envelhecimento numa idade mais avançada”, explicou a reponsável. A área da Gerontologia, acrescentou, é precisamente a ciência que estuda o envelhecimento humano – uma missão que considera especialmente importante: “Devemos pensar a velhice, antes da velhice”.

A consideração atempada desta fase da vida reflete-se por exemplos, nas ações e hábitos praticados durante a juventude. A Gerontologia “trabalha numa lógica de prevenção da incapacidade” (ao contrário da Geriatria, que se foca na resposta). Por outro lado, um dos pontos fulcrais está na “educação da sociedade”, reforçando a necessidade de “olhar para as pessoas mais velhas como pessoas com valor”.

 

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Os diplomados deste curso, revelou Sofia Silva, atuam normalmente em Instituições de Solidariedade Social e autarquias, procurando formas individulizadas ou estruturais de responder às necessidades deste segmento populacional. A atividade realizada seguiu também uma lógica intergeracional, com os adolescentes da I Love We a participarem num debate com um grupo de idosos incluídos no projeto “Letras para a Vida” que inclui as vertentes de alfabetização, literacia informática, terapia musical e recreação.

O debate de hoje foi preparado por um grupo de alunas desta licenciatura. Francisca Silva explica que o objetivo passou por estimular o contacto intergeracional, através de uma discussão relativa às novas tecnologias. “Os mais jovens devem valorizar a pessoa idosa”, realçou. Já a sua colega, Soraia Cardoso, destaca o “ganho mútuo” desta atividade: se os estudantes poderão aceder ao conhecimento dos mais experientes, os mais idosos poderão saber mais sobre, por exemplo, a utilização de aplicações ou outras tecnologias.

 

O momento do palco

Faltam poucos minutos para começar o espetáculo quando o diretor do curso de Estudos Musicais Aplicados, Rui Simões, dirige algumas palavras aos participantes da I Love We. "Agora que todos sabem as suas deixas, todos conhecem as suas vozes, só resta cada um fazer a sua parte, com concentração, atenção e rigor", realçou o professor. Sobre o trabalho realizado ao longo destes dias, Rui Simões considera que foi "uma pequena amostra daquilo que se faz nesta escola, onde interagimos com todos os cursos". "É essa a imagem que vos queremos deixar", reforçou. 

O participante Bruno Cardoso de 17 anos, conta que o enredo incide na relação entre tecnologia e a paixão: "tem tudo a ver com a nossa geração, a tecnologia permite facilitar o encontro de outras pessoas e o aparecimento da paixão, que pode ser amizade ou amor". A seu lado, Márcia Pereira, de 19 anos, conta que participar na criação e execução do espetáculo foi "uma boa experiência e algo que nunca tinha feito". "Sou uma pessoa envergonhada, mas com a ajuda dos estudantes da ESEC, senti uma evolução", acrescenta. Já para Bruno Cardoso, a experiência de contactar com a arte teatral foi "uma experiência livre e espontânea, sem pressão". Por essa razão, "o resultado final foi "genuíno" ao ser fruto "do improviso e da nossa forma de nos expormos"

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Incluído na componente musical do espetáculo, Júlio Faria conta que "aprendeu técnicas para melhorar a atuação e as capacidades vocais". Um acompanhamento que fez toda a diferença, acrescenta Eduardo Barros. "A maioria de nós não tinha experiência musical e, todos juntos, aproveitámos o melhor cada um", explica. "Também acabou por reforçar a nossa relação", adianta Beatriz Noverça, de 18 anos. 

 

200 estudantes que "se sentem em casa"

Depois de jantar, haveria ainda tempo para uma ida ao teatro, para assistir à peça "Ensaio Tchéckhov", uma parceria entre os estudantes finalistas do curso de Teatro e Educação da ESEC e o Teatrão. Antes, contudo, decorreu a entrega de certificados e a exibição do vídeo de highlights elaborado pela equipa da ESECTV, durante a sessão de encerramento da quarta edição da Academia I Love We.

A professora da ESEC, Joana Fernandes, que acompanhou todas as edições, destaca como "no total, ao longo destes quatro anos, 200 jovens se tornaram embaixadores da ESEC", para além de terem a oportunidade de "experimentar um pouco de cada um dos cursos da oferta formativa" desta escola. O espetáculo final, reforça, simboliza também aquela que é uma característica que distingue a ESEC: "uma escola de formações diversificadas que se cruzam". 

 

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De resto, para a docente de Comunicação Organizacional, estes cinco dias são uma oportunidade de dar a conhecer as características que distinguem esta escola, uma vez que "é apresentada não só a oferta formativa, como também o espírito e a forma de viver a ESEC". A relação próxima com os professores ou a componente marcadamente prática das atividades, por exemplo, "são importantes porque essa é a também a experiência de estudar aqui". De resto, é essa vertente que "torna fácil exemplificar e envolver os estudantes enquanto participantes enquanto atores, mas também criadores. E essa é uma das nossas prioridades - realçar que os estudantes terão de ser protagonistas da sua própria formação". 

 

"Os estudantes participaram enquanto atores, mas
também criadores (...) [Queremos] realçar que
os estudantes terão de ser protagonistas
da sua própria formação"
Joana Fernandes, docente da ESEC

 

Estes cinco dias de atividades permitiram também, salienta Joana Fernandes, "o conhecimento de Coimbra" - uma dimensão particularmente importante, temdo em conta "a preparação da cidade para receber os estudantes". Por outro lado, sendo a ESEC uma escola com "uma vocação essencialmente regional", a aposta recaiu também no conhecimento de outros concelhos dentro da região como a Lousã ou Condeixa. 

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Quanto ao impacto que esta experiência deixará nos estudantes, Joana Fernandes não tem dúvidas: "A memória em relação a esta escola vai ser muito mais forte". Em específico, os que escolham eventualmente a ESEC, "serão caloiros mas já não tão caloiros", realça, antes de concluir: "Será o regresso a um lugar onde se sentiram em casa".

 

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