2018 reservou-te dois prémios: "Melhor Jovem Agricultor Europeu" e "Melhor Jovem Agricultor 2018", O que significa para ti vencer estes prémios e que importância lhes atribuis?
Estes prémios foram acolhidos com grande orgulho e satisfação. Significam que as escolhas por tomadas, que acarretam algum receio e dúvida devido à sua inovação e ambição tecnológica, foram bem vistas pelos júris dos concursos e por várias pessoas do meio agrícola. Esse é um indicador de que esta exploração tem a possibilidade de se tornar uma exploração de sucesso, na vanguarda da agricultura. 
 
Como surgiu a tua ligação à agricultura? Foi uma área em que sempre quiseste trabalhar ou descobriste esse gosto apenas mais tarde? 
Sempre fui um grande apaixonado pela agricultura. Tive a sorte de ter contacto com ela desde tenra idade, por viver na província e no seio de uma família agrícola há várias gerações. Ao longo dos anos, o gosto começou a aprofundar-se e percebi que queria fazer da agricultura o meu modo de vida.
 
Como classificas a ligação dos jovens à agricultura, de forma geral? Pensas que é atualizada, face ao estado atual do setor? E, no caso de existir um desencontro, como explicas essa diferença de perceção? 
Penso que a ligação dos jovens ao sector agrícola ainda não está atualizada. Tem melhorado nos últimos anos – a agricultura tem ganho popularidade na sociedade. Ainda assim, há alguma discrepância, principalmente entre os jovens dos grandes meios urbanos. Prende-se principalmente com a falta de ligação das regiões urbanas com o meio rural. Ou seja, os jovens nunca presenciaram operações agrícolas, nunca viram explorações em funcionamento, nem maneio de animais, etc… E assim vai-se criando um fosso entre o meio rural e o meio urbano. Apesar deste conceito estar a mudar, a agricultura ainda é muito vista pelas pessoas das grandes cidades como uma ocupação muito simples, do sector primário. No entanto, é dos setores profissionais que mais envolve tecnologia. 
 
Pensas que as vertentes ecológica ou tecnológica do setor, por exemplo, poderão constituir pontos de interesse das gerações mais jovens? O que é a que a agricultura pode oferecer a um jovem estudante, enquanto opção profissional? 
Penso que sim. Há muito interesse, hoje em dia, nessa vertente tecnológica. E o sector agrícola encaixa-se perfeitamente, uma vez que apresenta opções tecnológicas do mais alto nível, assim como opções ecológicas. Ou seja, é possível na agricultura melhoras estas duas vertentes, o que pode ser bastante aliciante para jovens em formação. Por outro lado, também oferece várias áreas de trabalho: da realização de projetos à consultoria, passando trabalho em explorações de pecuária e agricultura. Neste leque variado de trabalhos, há em alguns a possibilidade do contacto direto com o campo que, aliado à produção de alimentos, forma uma ocupação apaixonante. 
 
Manuel Grave 2
 
Consideras que este avanço tecnológico "amortiza", de alguma forma, o risco associado ao trabalho agrícola? É mais seguro, hoje em dia, investir na agricultura?  
Em certa medida, sim. A tecnologia ajuda a amortizar algum risco, como é o caso das previsões meteorológicas, que nos permitem antecipar e realizar as operações com a maior eficácia possível. Outras tecnologias, além de amortizar os riscos, permitem a utilização precisa dos recursos disponíveis, ajudando a dotar a planta das quantidades estritamente necessárias ao seu máximo desenvolvimento. É o caso das sondas de rega, da rega automática, da agricultura de precisão, etc. Pode dizer-se que hoje é mais seguro investir na agricultura, não deixando, no entanto, de ser um negócio a céu aberto, que acarreta inevitavelmente a sua quota parte de risco.
 
Falando especificamente do nosso país: face ao passado do setor, quais são as principais diferenças que registas (ou prevês)?  
 
Não posso falar muito de passado, uma vez que estou a trabalhar há 3 anos e meio. Mas noto que tem existido um crescente apoio à agricultura, assim como sensibilização para este sector tão crucial para a sociedade e para a economia. No entanto, prevejo que seja cada vez seja mais difícil cumprir os parâmetros que nos são indicados para receber apoios ou para estar em algum modo específico de produção. Temos que controlar tudo cada vez mais, porque somos inspecionados por todos os detalhes, (que na prática muitas vezes nem fazem muito sentido) o que implica uma organização cada vez maior por parte dos agricultores. 
 
Uma das questões mais pertinentes, relacionadas com esta questão da ligação ao setor agrícola, passa pelas projeções do aumento das necessidades alimentares, para as próximas décadas. Quais pensas que serão as consequências, do ponto de vista do desenvolvimento do setor?
É de facto uma das questões mais importantes do nosso sector. Penso que implicará, inevitavelmente, uma intensificação das produções, introdução de cada vez mais tecnologia, manutenção do melhoramento de plantas, seleção de raças, etc. A terra arável que temos é finita, pelo que teremos que inovar e encontrar maneiras de produzir mais, gastando o mínimo de recursos possível. Estas abordagens, executadas com o conhecimento e a tecnologia que hoje possuímos, poderão ser parte da solução para o problema das crescentes necessidades alimentares. 
 
 
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