Já vendeu mais de 250 milhões de exemplares no mundo, entre os quais os 7 volumes das célebres 'Crónicas de Clifton'. 'Kane e Abel', uma das suas obras mais marcantes há muito esgotada no mercado nacional volta a estar disponível entre nós. Este primeiro tomo de uma trilogia consta entre os 100 livros mais vendidos de sempre no mundo inteiro. Por isso estivemos à conversa com este 'Contador de Histórias', precisamente o título do livro de crónicas que apresentou em pessoa na mais recente edição da Feira do Livro de Lisboa.

Em 'Contador de Histórias' diz que raramente os nossos colegas de escola realizam as suas ambições de adolescência ou têm as profissões que imaginámos que teriam. Uma vez que só publicou o seu 1.º livro aos 35 anos é certo afirmar que nunca sonhou ser escritor?
Nunca quis ser escritor, queria ser primeiro-ministro mas não consegui. Só escrevi 'Nem Um Tostão a Mais Nem Um Tostão a Menos' aos 35 anos e não pensei que teria uma carreira na escrita. Na altura estava desempregado, tinha feito investimentos empresariais muito tolos. O primeiro livro resultou bem, mas a grande rampa foi 'Kane e Abel'. Foi aí que percebi que ia escrever para o resto da minha vida. Esse livro já vai na 116.ª edição. Faz agora 40 anos e já vendeu 32 milhões de exemplares. Foi lido por 100 milhões de pessoas.

Foi difícil encontrar a sua voz enquanto escritor?
Acabamos por encontrar a nossa própria voz. Somos como somos e se o público nos entende, isso é fantástico. Não podemos fingir ou fazer algo diferente do que somos. Nesse aspeto acho que tive sorte. Sou um contador de histórias.

A sua melhor história foi aquela que mais vendeu?
Não, não. O público é que decidiu que 'Kane e Abe' é o melhor. Mas creio que 'Prisioneiro da Sorte' e 'As Crónicas de Clifton' são igualmente bons. Tenho um carinho especial por 'As Crónicas de Clifton'. Não sinto pressão para escrever bestsellers. Faço o que quero e passo parar quando quiser. A pressão é para as gerações mais jovens, não para mim (risos).

Foi difícil despedir-se das sete 'Crónicas de Clifton' e mudar para os contos de Contador de Histórias?
Sim, muito. Vivi 8 anos com essas personagens e, de repente, “ooops” foram-se. Porém, nos últimos 10 anos tinha reunidos alguns contos de todo o mundo e sabia que queria fazer algo nesse registo a seguir. É um desafio muito diferente - escrever 12 contos por oposição a 7 romances – mas não consegui resistir.

É verdade que escreve e rescreve muito os seus livros?
O 'Contador de Histórias' final é o 14.º rascunho, todos eles manuscritos. Não há atalhos, quem me dera que houvesse. Era tão bom se fosse igualmente fácil dizer e fazer. Trabalho até ter a certeza de que aquilo é o melhor que conseguirei. No último rascunho, quando é só uma questão de mudar uma vírgula ou palavra, sabemos que o livro está concluído. Gosto de fazer coisas inesperadas, de instigar os leitores a pensar.

Jeffrey Archer Feira do Livro 02Julho19 baixa 094
Nos seus livros as mulheres têm sempre personalidades muito fortes…
Sempre! A minha mulher!
… são pioneiras e lutadoras…
Sim! A minha mulher!
… manipulam os homens, mudam o curso da história…
Sim! A minha mulher!
… Cresceu rodeado por mulheres fortes?
Sim, a minha mãe tinha uma personalidade muito forte. Não andou na universidade, na altura não é usual, mas tirou um curso aos 52 anos. Trabalhei 11 anos com a Margaret Thatcher [antiga primeiro-ministro britânica), sou casado com uma mulher que a Rainha de Inglaterra nomeou “Dama” e que é Presidente do Museu da Ciência na Grâ-Bretanha. Sempre tive mulheres fortes ao meu redor e adoro. Alguns homens têm medo de mulheres fortes, mas eu simplesmente adoro-as. E por isso tinha de tê-las nos meus livros. As mulheres das novas gerações vão ser umas matadoras. Por exemplo na Índia, as jovens vão dominar o país: são empenhadas, brilhantes, maravilhosas. Já vivi tempo suficiente para ver as mulheres ganhar poder no mundo mas nada que se compare com a próxima geração. Vão dominar à grande. E acho muito bem: esperaram demasiado tempo!!

Como é que a sua experiência enquanto político se reflete na escrita?
É uma questão pertinente, uma vez que estive 40 anos na política. Sempre fui fascinado por política. Conheço muitos políticos, pessoas muito boas e honradas, mas outras muito más. A minha mulher diz-me sempre que os leitores gostam mais de vilões do que heróis. Aos jovens que querem ser romancistas digo sempre: “escrevam sobre o que conhecem”. Política e arte são dois temas que domino e ponho nos meus livros.

Nesta era tecnológica, os jovens dão a devida importância à leitura, à escrita, à expressão de sentimentos em palavras?
É muito interessante pensarmos nisso porque 53% dos meus leitores são digitais. Nos EUA e na Grâ-Bretanha 43% leem-me no Kindle e 7% ouvem-me. Os audiolivros são a grande surpresa. Há 8 anos, apenas 1% consumia audiolivros. O interessante é saber como será com as novas gerações. Não sabemos: os jovens mudam de mentalidade todos os dias! Há sempre tendências novas a aparecer. Só me resta escrever e rezar que, seja em que formato for, seja lido e apreciado.