O sol até brilhava sobre a Mata Nacional de Vale de Canas, nos arredores de Coimbra, como que convidando as crianças e jovens presentes a explorar os seus trilhos. Ainda assim, o tempo ameno nunca seria uma condição obrigatória, destacou a educadora Luana Pinho: “Faça sol ou faça chuva, podemos sempre explorar – o que importa é a preparação e a roupa que trazemos”.

A educadora referia-se, em específico, à atividade do projeto Limites Invisíveis – o programa promovido pela Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) e pela Universidade de Aveiro (UA) que se centra na educação outdoor para crianças dos 3 aos 10 anos de idade. Nesta altura do ano, realizam-se os campos de férias do projeto e, todos os dias, grupos de crianças exploram, brincam e aprendem, na Mata de Vale de Canas.

 DSC8598 DSC8588A educadora Luana Pinho e professor Fernando Martins receberam os participantes em Vale de Canas


Durante a manhã de hoje, os participantes da I Love We juntaram-se a algumas destas crianças. “Vâo ser elas a guiar-vos”, explicou aos participantes Luana Pinho. O desafio passou por identificar espécies de fauna e flora existentes na mata. O objetivo, acrescentou a educadora, passa também por mostrar a importância de “respeitar todas as espécies de fauna e flora”, eventualmente confrontando e resolvendo alguns receios.

Divididos em grupos, estudantes e crianças procuraram encontrar, no interior da mata, algumas espécies previamente listadas. Caracóis, aranhas ou borboletas foram alguns dos tesouros procurados. “Achei que foi uma atividade divertida – é sempre divertido estar com os mais pequenos”, conta Xavier Sousa, de 16 anos, antes de acrescentar: “Não fomos só nós que nos divertimos, as crianças também e acho que isso é importante”.

 DSC8590 DSC8638Grupo de crianças ajudou os estudantes do Ensino Secundário e Profissional a explorar os percursos e a identificar espécies de fauna e flora


Educação sem limites

O Limites Invisíveis nasceu em 2016, numa colaboração que envolve a ESEC, a UA e o Centro de Apoio Social dos Pais e Amigos da Escola (CASPAE). O foco é a realização de atividades numa área integrada na natureza, sendo que, ao longo dos três anos de existência, o projeto já envolveu 1300 crianças. Por essa razão, o projeto conta ainda com o apoio do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Inicialmente, os programas decorriam no Mata do Choupal. Entretanto, devido aos estragos causados pela tempestado Leslie, a 13 de outubro de 2018, os trabalhos passaram temporariamente para Vale de Canas. “Estamos a reunir apoios para recuperar o espaço do Choupal”, revela o Diretor da licenciatura em Educação Básica da ESEC, Fernando Martins.

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 DSC8647Atividade fez-se pelos trilhos da Mata Nacional de Vale de Canas


Para explicar a metodologia do projeto Limites Invisíveis, o diretor aponta um grupo de crianças que brinca junto a um tronco caído. “Neste contexto, poderão adquirir conhecimentos sobre Ciências Naturais ou Matemática, entre outras, e ainda realizar atividade física”, realça. A lógica é, precisamente, de transversalidade, destaca o docente, evitando “a tipificação do ensino escolarizado que se resume à sala de aula”, sendo que “todas as áreas de estudo do ensino pré-escolar e básico podem ser encontradas nestes ambientes”.

Na metodologia seguida pelo projeto Limites Invisíveis, os estudantes intercalam períodos de quinze dias, entre as atividades de exterior e de sala de aula. Os resultados, asseguram Fernando Martins e Luana Pinho, têm sido muito positivos. Para além do “bom feedback oferecido por pais e alunos”, realça o diretor do curso, há ainda a destacar “a evolução que se regista nas crianças, cada vez que voltam de um período de atividades no exterior”, acrescentando: “Num ambiente natural, a aprendizagem torna-se mais aliciante”.

 

 

Em ligação à ESEC

De acordo com Fernando Martins, há muitos pontos de contacto entre este projeto e o curso que dirige. Desde logo, vários estudantes aqui realizam estágio. Da mesma forma, alguns diplomados e diplomadas estão hoje ligados profissionalmente no Limites Invisíveis. Este curso será “ideal para jovens que tenha gosto em trabalhar com crianças”, mas não só: “Há outras saídas profissionais associadas como permitem trabalhar em museus ou autarquias, por exemplo”.

"A educação outdoor evita a tipificação de um ensino
escolarizado que se resuma à sala de aula (...)
Num ambiente natural, a aprendizagem
torna-se mais aliciante"
Fernando Martins, docente da ESEC

 

A atividade de hoje serviu para mostrar o trabalho realizado nesta área mas também, destacou o diretor do curso, para “abrir horizontes sobre o que se pode fazer de diferente no mundo da Educação”. Um momento especialmente importante, uma vez que os participantes da I Love We, estudantes do ensino secundário e profissional, deverão “ter passado por um sistema escolarizado, numa lógica com 40 ou 50 anos”, realçou o docente. Este exemplo pode ser ainda importante por outras razões, concluiu: “Poderão também contactar com um exemplo de uma boa prática, enquanto futuros pais e educadores”.

 

Uma tarde animada

A tarde de hoje foi ocupada pela continuação dos ensaios de Teatro e Música. Na preparação do espetáculo que será apresentado na sexta-feira. Os trabalhos foram conduzidos em conjunto com estudantes, diplomados e professores da ESEC. Durante os trabalhos, foi possível saber mais sobre os cursos de Estudos Musicais e Teatro e Educação, com uma conversa com os diretores das respetivas formações. Antes, contudo, o professor do curso de Animação Socioeducativa da ESEC apresentou aos estudantes um desafio, em colaboração com alguns estudantes: o jogo "A Aveniada Complicada". 

"Vão ter mesmo de trabalhar em equipa", começou por explicar uma das estudantes. Depois de divididos em grupo, os participantes receberam um enigma para resolver. O objetivo passou, precisamente, por "fomentar o espírito de equipa e o estabelecimento de relações de interajuda e comunciação", realçou a estudante da licenciatura em Animação Socioeducativa, Vanessa Oliveira. Por essa razão, houve, por exemplo, a preocupação em criar grupos com membros de diferentes equipas. 

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Um dos pontos essenciais do exercício, explica a estudante de 22 anos, está na "capacidade de resolução de problemas". Uma vertente que estabelece a ligação à área da Animação Socioeducativa: "O nosso curso prepara-nos para intervir junto da população ou certas comunidades quando é necessária transformação: identificamos, analisamos e interpretamos problemas, para conseguir encontrar soluções criadas à medida". 

Nas palavras do diretor do curso de Animação Socioeducativa, António Leal, esta área pretende "criar oportuniadades", partindo do princípio que "a transformação está nos indivíduos". Por essa razão, o desígnio de quem trabalha nesta área passa por "educar para a participação", de forma "a diminuir as desigualdades e encontrar a justiça social". "O objetivo é fazer as pessoas acreditar que é possível mudar, uma vez que a mudança parte das próprias pessoas", reforçou o diretor do curso. 

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Trabalhar nesta área passa por saber desenhar novas soluções para problemas complexos. Nesse sentido, o desafio colocado aos participantes da I Love We, acrescentou a estudante Vanessa Oliveira,
"simboliza este processo, ao introduzir um problema que não é imediatamente claro e que obriga a trabalhar em conjunto numa solução". 

Esta necessidade de inovação constante leva Vanessa Oliveira a considerar que, neste curso, será importante que um estudante evidencie "criatividade, ambição e gosto em contactar com diversas comunidades". No seu caso, descreve, o curso permitiu-lhe "ganhar visão", nomeadamente através dos vários estágios que garantiram um contacto próximo com o leque muito abrangente de estratégias a utilizar nesta área. Um conhecimento que poderá fazer toda a diferença. "A prática é muito valorizada numa área que vive da mudança", conclui a estudante. 

 

Correr à noite

Todas as quartas-feiras, pelas 21h30, um grupo de pessoas marca encontro, no Largo da Portagem, junto ao rio Mondego. Os desportistas noturnos partem depois em trajetos de diferentes velocidades e dificuldades que vão da caminhada à corrida. Esta é a descrição do Coimbra Night Runners, a atividade semanal em que participaram os estudantes da I Love We, a fechar o terceiro dia. Qualquer pessoa poderá juntar-se ao grupo, bastando "aparecer à hora marcada, no dia marcado", destaca a organização. 

A iniciativa nasceu há quase sete anos, quando um grupo de Desporto e Lazer da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) tiveram como objetivo "organizar uma Night Run" na cidade, "à semelhança do que tem sido feito em algumas cidades do país", pode ler-se no Facebook da organização. A lógica, acrescentam, é a de "trazer as pessoas para a rua", numa perspetiva de "Desporto para Todos", independemente das velocidades atingidas ou distâncias percorridas. Hoje, o projeto é promovido pelos estudantes do 3.º ano da mesma licenciatura. 

No final da tarde de hoje, o diretor do curso de licenciatura de Desporto e Lazer, António Damásio, antecipou este momento desportivo noturno, aproveitando para explicar a designação desta formação: um dos seus eixos centrais passa por encontrar formas de "ocupar o tempo com atividade física". Gestão desportiva, gestão do treino e planeamento autárquico foram algumas das saídas profissionais destacadas. 

Durante cerca de uma hora, os participantes da I Love We puderam também conhecer a cidade de Coimbra, percorrendo as suas ruas em conjunto. O momento serviu, de alguma forma, como aquecimento para a atividade que abre o programa de amanhã, com a realização de um percurso pedestre até à aldeia do Talasnal, na Serra da Lousã.