'Dionysus', o novo álbum conceptual (feito de duas longas faixas), não foi aquilo que os Dead Can Dance vieram apresentar ontem e hoje na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. No alinhamento de duas horas e 20 temas, deste último registo discográfico só se ouviu ‘Dance of the Bacchantes’. De resto, a sala lotada prestou tributo a uma carreira inquieta que já leva quase 40 anos, imagine-se, revisitando toda a sua discografia e dando mesmo primazia a passagens nunca antes ou raramente ouvidas ao vivo pelo público. Houve ainda espaço para uma versão magnífica de ‘Song to the Siren’, de Tim Buckley.

DeadCanDance dentro

Dizemos que a sua criação artística é “inquieta” porque Brendan Perry e Lisa Gerrard deixam-se contaminar na sua sonoridade por várias influências, à vez ou em justaposição. Eles são dark wave, world music, art rock, vanguarda, rock gótico, pós-punk, new age, não definação estética que os espartilheSão eletrónicos e orgânicos, são minimais e complexos, são modernos e antigos, são líricos, xamânicos, ritualistas. A sua música é para ouvir, muito sossegados e mal respirando, mas também é para deixar o corpo fluir, qual técnica de contacto-improvisação.

Os Dead Can Dance carregam a morte no nome mas, na verdade, celebram é a vida. Fazem-no sem amarras culturais, geográficas, celestiais, como se fossem australianos por puro acidente. Serão mesmo deste mundo? E como a vida lhes continua a ficar bem, ali partilhando o palco com seis outros músicos, cúmplices neste espetáculo que também foi feito de sombras e de luzes, de imagens projetadas numa tela gigante no fundo do palco, como se as composições não tivessem, elas próprias, o doce condão de nos fazer transportar para outras dimensões.

(Fotos de Nuno Andrade)