Um pouco por todo o edifício do CETEMARES, há uma frase colocada em destaque – “Do Mar para a Sociedade”. Este é o lema deste centro de investigação inaugurado em 2015, simbolizando aquele que é o seu principal objetivo, conforme descreveu aos participantes da Semana Tanto Mar a coordenadora do MARE – IPL, Maria Manuela Gil, na sessão de acolhimento: “Trazemos tudo aquilo que o mar nos dá, de forma sustentável, para a sociedade”.

Os cerca de 100 investigadores que aqui desenvolvem os seus trabalhos científicos dividem-se em quatro áreas principais, explicou Maria Manuela Gil: Biologia Marinha, Aquacultura, Biotecnologia Marinha e Inovação Alimentar. Ao longo da manhã e tarde de hoje, os cinquenta estudantes que participam na Semana Tanto Mar puderam conhecer alguns dos projetos de investigação inseridos nestas áreas, realizando atividades práticas.

 

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“Espero que este dia vos mostre o que os cientistas fazem no seu dia-a-dia”, sublinhou a coordeadora do MARE – IPL, destacando o trabalho aqui realizado como “Ciência com impacto, desenhada para responder às necessidades da sociedade”. “Há um mar de oportunidades que vão poder conhecer”, acrescentou.


Ciência a quadriplicar

As quatro equipas da Semana Tanto Mar passaram por quatro espaços diferentes do CETEMARES, conhecendo vários projetos de investigação. Num dos laboratórios do edifício, a investigadora Susete Pinteus começou por revelar: “Hoje vamos falar de antioxidantes”. A atividade aqui dinamizada, explicou, teve como objetivo analisar várias amostras, para perceber quais as mais ricas nestes compostos.

 

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Os antioxidantes são compostos que combatem os radicais livres, moléculas muito instáveis que podem degradar outras moléculas. “Suspeita-se que muitas das doenças existentes tenham origem no ataque destes radicais livres”, explicou a investigadora. Para além dos antioxidantes produzidos pelo corpo humano, existem também compostos sintetizados quimicamente. O trabalho realizado no CETEMARES procura compostos antioxidantes nas algas. Nesse sentido, os estudantes realizaram processos químicos para avaliar a riqueza de determinadas substâncias nestes compostos.

Num dos outros laboratórios do edifício, a atividade teve como protagonistas vários tipos de peixes que foram analisados pelos estudantes. O objetivo passou por, como explicou o coordenador da licenciatura em Engenharia Alimentar, Rui Ganhão, avaliar as diferenças entre o pescado fresco e aquele que é conservado com recurso à refrigeração durante vários dias.

 

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“Queremos passar a mensagem de que existem parâmetros de qualidade”, explicou o docente à FORUM, que revelou alguns dos principais elementos a ser analisados como os olhos, as barbatanas, o brilho, as escamas, a textura e o odor. A atividade relaciona-se com os trabalhos habitualmente realizados no âmbito da licenciatura que coordena, acrescentou: “Trabalhamos com pescado, laticínios, vinho e hortofrutícolas – no caso do pescado, é um exemplo do trabalho de controlo realizado em lota ou em empresas do setor”.

 

Os animais e as florestas subaquáticas

Outra das atividades do dia relacionou-se com Biologia Marinha e, em específico, com Aquacultura. “Esta é uma área que envolve recolha de dados em campo e em laboratório”, explicou à FORUM a investigadora Sónia Cotrim. Nesse sentido, as atividades hoje realizadas tiveram como objetivo mostrar aos estudantes a forma como o trabalho dos investigadores e investigadoras do CETEMARES nesta área estuda “a resposta dos organismos às alterações ambientais, enquanto atividade de conservação”.

O interesse das gerações mais jovens pelo tema da sustentabilidade ambiental é visto por Sónia Cotrim como um fator que pode reforçar a ligação a esta área. “Investigamos formas de poder diminuir a pressão que a atividade humana está a colocar nos oceanos e tentamos encontrar soluções para um planeta mais saudável”, destacou, antes de concluir: “Todos temos de o proteger”.

 

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Esta missão esteve também em destaque numa das outras atividades do dia, durante a qual os participantes desta Academia Forum puderam conhecer um projeto de “Reflorestação dos Oceanos”. O trabalho realizado neste projeto procura "produzir em laboratório algas kelp para depois as colocar no oceano”, explicou o investigador o Paulo Maranhão.

As florestas subaquáticas de algas kelp são muito importantes para diversas espécies, explicaram os investigadores, ao fornecerem abrigo, alimento e um ambiente propício para a reprodução. Por outro lado, estas florestas são zonas de captação de carbono, sendo ainda utilizadas em fármacos, cosméticos, fertilizantes e alimentos. A sua existência, acrescentaram, é ameaçada pelas alterações climáticas, por contaminações da costa e pela atividade piscatória, por exemplo.

 

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O trabalho desenvolvido pela equipa do CETEMARES recolhe algas nos oceanos, para investigação das condições ideais de desenvolvimento em laboratório. Depois de criadas, estas algas são “devolvidas” ao oceano, procurando a reflorestação do espaço subaquático.

As atividades da Semana Tanto Mar continuaram depois de jantar, com uma palestra ligada ao tema Empreendedorismo e Mar. O empresário João Correia partilhou a forma como fundou a empresa “Flying Sharks”, durante a palestra “Tubarões, Melgas e Rock&Roll”. Numa intervenção que recapitulou o seu percurso de vida, João Correia destacou os vários momentos chave que o levaram a alcançar o seu desejo de criança: ser um biólogo marinho especialista em tubarões. 

 

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Para além de destacar a importância de manter o foco no objetivo, fazendo as escolhas e os sacríficios que o suportem, João Correia sublinhou o papel da resiliência e da dedicação no caminho para realizar sonhos, justicando o título da sua intervenção. "Temos de ser melgas, melgas, melgas", reforçou.

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